A Santa Casa da Misericórdia de Abrantes deu um passo significativo na valorização do seu património cultural ao promover, no dia 15 de novembro, o primeiro Encontro de Museologia.

O evento, realizado no auditório da instituição, reuniu especialistas em património e museologia, marcando o início formal do projeto de criação de um núcleo museológico dedicado à preservação e divulgação da história e do espólio da Misericórdia de Abrantes.

Mariano Cabaço, responsável pelo Departamento de Património Cultural e Centro de Formação Profissional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), foi um dos principais intervenientes nas jornadas. Na sua comunicação, destacou a singularidade do património das Misericórdias, fruto de mais de cinco séculos de existência e da dedicação das comunidades locais. "O património das Misericórdias é verdadeiramente extraordinário e único no mundo pelas vicissitudes que estas instituições foram vivendo ao longo de mais de cinco séculos", afirmou.

O responsável enfatizou a necessidade de um inventário rigoroso como base para qualquer projeto museológico, mencionando que já foram inventariadas cerca de 180 Misericórdias a nível nacional, totalizando aproximadamente 50 mil peças. "Só conhecendo o que se tem é que se pode partir para estes projetos", reforçou. Destacou ainda a importância de contextualizar o espólio, permitindo que os visitantes compreendam a história e a missão das Misericórdias. "Um museu não é apenas uma coleção de peças; é uma narrativa que deve refletir a identidade e a história da comunidade que o criou", acrescentou.

Também em declarações ao VM, o provedor da Misericórdia de Abrantes, João Pombo, expressou o entusiasmo da instituição com o projeto museológico. "Esta ideia já vinha a ser maturada há algum tempo, mas hoje marcámos o início formal deste caminho", explicou. O objetivo é abrir o espólio da Misericórdia à comunidade, permitindo que os visitantes conheçam a história de mais de cinco séculos da instituição. "Queremos que quem visitar este espaço saia daqui a saber um pouco mais sobre a nossa história", acrescentou.

João Pombo destacou também a importância do apoio do Fundo Rainha D. Leonor para a recuperação do património existente, nomeadamente a igreja e o definitório, que têm atraído um número crescente de visitantes. O próximo passo será a requalificação de novas áreas e a integração de escolas e universidades no projeto, como o Instituto Politécnico de Tomar, que tem colaborado na área do restauro. "A nossa expectativa é que o novo espaço museológico esteja aberto ao público já em maio do próximo ano", avançou.

O projeto museológico da Misericórdia de Abrantes pretende não só preservar, mas também revitalizar o seu vasto património, integrando-o na vida cultural da cidade. João Pombo reforçou que "a identidade da Misericórdia passa pela forma como pode preservar e apresentar o seu património, não só para os abrantinos, mas para todos os que visitarem esta cidade".

De acordo com Paula Remédios, mesária da Misericórdia de Abrantes, o futuro núcleo museológico terá duas salas onde poderão ser apreciadas várias peças desde pintura, escultura, cerâmica, mobiliário, têxteis, ourivesaria e metais. “O núcleo museológico vai ser um equipamento muito importante em Abrantes que pode ter interligação ao Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, Castelo, Museu de Arte Contemporânea de Abrantes e centro histórico.”

O I Encontro de Museologia da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes teve como objetivo promover a reflexão sobre a importância da preservação do património cultural das Misericórdias, muitas vezes desconhecido do grande público. O evento decorreu no auditório da Santa Casa e contou com a participação de peritos em museologia, representantes de diversas Misericórdias e entidades culturais, incluindo Inez Dentinho, representante do Fundo Rainha D. Leonor, que tem apoiado vários projetos de conservação do património em Portugal.

Ao longo do dia, os participantes discutiram a relevância de valorizar os espólios existentes, não só como parte da memória coletiva, mas também como meio de fortalecer a identidade das comunidades locais. O encontro terminou com uma visita guiada aos espaços patrimoniais da instituição, culminando num momento musical pelo Orfeão de Abrantes.

Voz das Misericórdias, Filipe Mendes