São documentos com muitos anos de vida, vários carateres em papel envelhecido, que as Misericórdias de Vila Real e de Peso da Régua optaram por entregar ao Arquivo Distrital de Vila Real. De outra forma, estes registos podiam ter-se perdido em mudanças de instalações ou até não ter sobrevivido à erosão do tempo.

São necessários 13 metros lineares de prateleira para acomodar os dois fundos, que reúnem um total de 290 documentos com valor histórico. Estão arquivados alvarás régios, atas, documentação relativa aos meandros da gestão do pessoal, do património, das áreas financeira, hospitalar e, também, assistencial. São documentos datados entre os anos de 1524 e de 1965 que, hoje, podem ser consultados presencialmente ou em qualquer parte do mundo, através da Internet.

O provedor José Gomes recorda que foi na sequência da nacionalização do hospital, aquando do 25 de Abril, que a Misericórdia de Vila Real optou por proceder ao depósito no Arquivo Distrital, em 1978. Combateu-se, assim, a probabilidade dos documentos se perderem ou ficarem votados ao abandono. “Foi uma mais-valia ter ficado à salvaguarda do Arquivo Distrital, porque não havia condições para os ter devidamente guardados. Além disso, podem ser consultados através do website do Arquivo.”

Como instituição de “preservação de memória nos vários domínios”, o Arquivo Distrital é o repositório de “documentação única” do universo das Misericórdias. “Se essa informação desaparecer ou não for cuidada, apaga-se um pouco da memória dos concelhos”, reforça o diretor Paulo Guimarães.

O provedor reguense, Manuel Mesquita, sublinha que a incorporação do espólio no Arquivo Distrital foi “uma forma de imortalizar a identidade da instituição”. Apesar de não ter acompanhado o processo, sabe que graças ao Arquivo Distrital ficaram salvaguardados “documentos sobre a história do hospital e sobre a génese da instituição”.

A Misericórdia da Régua nunca voltou a fazer depósitos, mas há a intenção de arquivar documentos “do passado recente para quem quiser consultar no arquivo”. Trata-se de expediente relacionado com a evolução da instituição, nomeadamente com a criação de novas valências. “Será uma mais-valia para o futuro. Esta documentação não pode ficar num só sítio, porque corre o risco de se perder ou extraviar. Assim, salvaguarda-se que está sempre no Arquivo e na instituição”, refere Manuel Mesquita.

A conservação destes conjuntos documentais requer todo um trabalho de higienização e de combate aos “inimigos” que podem colocar em causa a durabilidade ou a segurança dos documentos, nomeadamente incêndios, humidade, infiltrações, pragas de insetos e a luz. Estes procedimentos de acondicionamento e preservação foram também transmitidos às Misericórdias de Mesão Frio, Chaves e Boticas, que preferiram manter a custódia do seu acervo documental. “Nós fizemos a organização da documentação e o tratamento técnico, enquanto que as Misericórdias se comprometeram a disponibilizar a documentação para consulta pública e a criar as condições, nos próprios espaços, para que a documentação estivesse segura e conservada”, lembra Paulo Guimarães.

O diretor do Arquivo Distrital reconhece que “o ideal seria que as Misericórdias que têm um espólio documental com valor cultural criassem condições para o preservar”. “Contudo, compreendo que esse não seja o objetivo central das Misericórdias e correndo o risco do património se perder, o arquivo distrital está disponível para fazer a intervenção que for necessária”, conclui.

Voz das Misericórdias, Patrícia Posse