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- Atouguia da Baleia | Iniciativas de solidariedade para recuperar a igreja
A tradição voltou a cumprir-se em Atouguia da Baleia, Peniche, onde o Dia de São Leonardo, que se assinala a 6 de novembro, é sinónimo de feira e, desta vez, também de sopa da pedra com sabor a solidariedade. À semelhança do que aconteceu nos últimos anos, o almoço do evento foi organizado pela Santa Casa local e teve como objetivo angariar fundos para o restauro da igreja da Misericórdia.
Iniciada há cerca de dez anos, a reabilitação do templo tem sido financiada, quase na íntegra, pela “generosidade da população”, quer através da adesão às iniciativas promovidas, quer ajudando na sua concretização. Ademar Marques, mesário que integra a equipa organizadora de eventos de angariação de fundos, conta que apenas a substituição da cobertura e do pavimento, feita em 2009, foi objeto de uma candidatura a fundos comunitários, que viria a ser aprovada. Tudo o resto foi conseguido com a ajuda da comunidade, onde se inclui a autarquia local.
Além do almoço da Feira de São Leonardo, a festa em honra da Imaculada Conceição, que se assinala a 8 de dezembro, também tem ajudado a causa. Como? Ademar Marques explica: “há sempre um almoço ou um jantar e uma peça de teatro sobre a vida de Nossa Senhora, feita em parceria com a catequese, cujas receitas revertem a favor das obras”.
Os trabalhos de reabilitação da igreja estão a entrar na reta final, com o restauro dos murais nos nichos do retábulo-mor, também ele já intervencionado em 2017. “As pinturas estão ocultas há muito tempo, com uma tinta azul, que as tem preservado, mas que também não as permitia ver”, conta Ademar Marques, adiantando que, nesta fase, se procedeu ainda à conservação do cadeiral da irmandade. Um trabalho que trouxe uma surpresa: a inscrição do ano de 1662 descoberta no topo do cadeiral, que vem acrescentar informação à história do templo, construído no século XVII e que “sofreu danos” com o terramoto de 1755.
A intervenção contemplará também o restauro de algum do património móvel. Para já, avança a limpeza da bandeira da Misericórdia, que será custeada por “uma senhora de Atouguia da Baleia”. Ficarão a faltar alguns elementos escultórios, mas essa recuperação “não é tão urgente” uma vez que as imagens em causa “não saem em procissão nem apresentam uma deterioração tão acentuada”, como acontecia com as pinturas murais, onde “havia já pedaços a cair”.
Com a conclusão das obras em curso, fecha-se um ciclo iniciado em 2009 e que vai permitir à população da freguesia ver a igreja “como ela não estava há décadas”. A título de exemplo, Ademar Marques refere o caso do púlpito, restaurado no ano passado e que, “durante anos e anos”, ficou escondido debaixo de um contraplacado. Situação semelhante se passava com as pinturas murais, que “há muito” não estavam visíveis.
Também a “encerrar um ciclo” como provedora da Misericórdia, Maria Lisete Marques não esconde a satisfação por conseguir terminar a empreitada de reabilitação do templo. “Para a atual mesa é um gosto poder dar este passo de completar o restauro da igreja da Misericórdia, que iniciámos há 10 anos. Só foi e só será possível graças à generosidade e colaboração das pessoas da Atouguia, que espero que fiquem satisfeitas com o resultado final", afirma a provedora.
“O restauro só se conseguiu com a mobilização das pessoas, que têm aderido às iniciativas que vamos promovendo”, reforça Ademar Marques, sublinhando que a irmandade, que está a assinalar 475 anos, apenas tem como receitas próprias aquelas que provêm da atividade da casa mortuária. “É a única fonte de rendimento desta Misericórdia, que não dispõe de qualquer valência social.”
Os próximos eventos de angariação de fundos para garantir o pagamento das obras vão realizar-se no fim-de-semana de 7 e 8 de dezembro, por ocasião das festividades da Imaculada Conceição, com a organização de um jantar, no sábado, e a reposição da peça teatro "Magnificat - a vida de Nossa Senhora", que acontecerá no domingo.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva