Na nova fase deste presépio, patente até dia 8 de janeiro no espaço exterior anexo à Igreja de Nossa Senhora da Piedade (antigo hospital da Misericórdia de Beja), Baltazar, Gaspar e Belchior surgem com montadas distintas, cada qual “inspirada” na sua procedência.
“O Rei Belchior, que seria oriundo da Pérsia (atual Irão), vem num leão, que é o animal simbólico dessa zona. Já o Rei Gaspar, oriundo da Índia, vem num elefante. E o Rei Baltazar, oriundo da Arábia Saudita, vem montado no seu camelo”, explica Alexandra Santos Rosa, que contou com a colaboração dos artistas José Francisco e Susana Teixeira para este trabalho.
Além das diferentes (e coloridas) montadas, também os reis magos são distintos na forma e no conceito, num trabalho singular e original dos três artistas que tem deixado bastante impressionados os mais de 600 visitantes que já passaram pela exposição.
“As pessoas quando aqui chegam ficam surpreendidas, porque é um presépio diferente dos presépios tradicionais. É um presépio em que há a fusão da história tradicional com a história que foi criada especificamente para este presépio e isso acaba por surpreender as pessoas”, garante Alexandra Santos Rosa, reconhecendo que nem todas as opiniões são favoráveis ao trabalho realizado.
“Mas às vezes é preciso chocar um bocadinho as pessoas, para que estas consigam ter outra forma de olhar para o mundo e ver as coisas”, contrapõe a coordenadora artística do projeto.
Em 2021 o presépio da Misericórdia de Beja tem uma outra novidade: uma passadeira em mosaicos hidráulicos, que guia os visitantes por todas as fases do projeto, numa espécie de “passadeira alvinegra”.
“Todas as Misericórdias do país têm este tipo de pavimento. Como tal, a colocação deste pavimento é uma forma simbólica de unir todas as Santas Casas [de Portugal] em torno deste presépio”, justifica Alexandra Santos Rosa, revelando que “num próximo ano” este pavimento “formará uma cruz a meio” do recinto, como forma de “ligação entre o nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus”.
A criação do presépio da Misericórdia de Beja arrancou em 2018, num desafio lançado pelo provedor João Paulo Ramôa a Alexandra Santos Rosa, que idealizou um projeto a desenvolver em seis fases, uma por ano e todas recorrendo a artistas e a produtos locais.
No primeiro ano, 2018, foi a própria Alexandra Santos Rosa a conceber a imagem do presépio propriamente dito, instalado numa talha de barro executada pelo oleiro António Mestre. Por sua vez, José Francisco criou a composição central em torno do conjunto, com elementos decorativos de origem vegetalista.
Depois, em 2019, juntaram-se ao presépio bejense as figuras dos santos padroeiros (Santo António, São João e São Pedro), assim como o santo padroeiro da cidade (São Sezinando) e os das suas freguesias urbanas (Santiago Maior, São João Batista, Santíssimo Salvador e Assunção de Nossa Senhora). Os trabalhos foram executados por Alexandra Santos Rosa, Leandro Sidoncha, Paula Salvador, Manuel Carvalho e Sacha Vorontsova.
Em 2020, a terceira fase do presépio foi dedicada ao tema da “Alquimia”, com representações artísticas dos anjos Querubins, Potestades, Serafins, Arcanjo Rafael, Arcanjo Miguel, Arcanjo Gabriel e Anjo da Guarda por intermédio dos artistas José Francisco, Carla Mota, Manuel Carvalho, Paula e Jorge Salvador, Alexandra Santos Rosa e Rita Morais.
O projeto idealizado por Alexandra Santos Rosa prevê mais duas fases, o que, diz a autora, dependerá “sempre da vontade da Misericórdia em dar continuidade” ao presépio.
Se assim for, para 2022 o objetivo será recriar “as oferendas ao Menino Jesus”, através de “umas figuras que irão unir elementos da região ao próprio presépio”, conclui esta responsável.
Voz das Misericórdias, Carlos Pinto