Estacionamos junto à Igreja do Bom Jesus. Num ambiente bucólico, vamos dando passos curtos pelo jardim para apreciar, com calma, as seis capelas em granito dos Passos da Paixão e as notáveis figuras de madeira, policromadas em tamanho real da autoria de João José Braga.
Depois de entrar, subimos ao primeiro andar onde começamos por mergulhar num autêntico tesouro e, logo na primeira sala, fixamos um nome que há de percorrer connosco todas as salas deste espaço museológico: Maria Dias de Sousa.
O nosso olhar contempla um portentoso pálio roxo no qual foi bordado a ouro o símbolo da Confraria de Bom Jesus. Uns passos à frente entramos na sala dos ex-votos onde sobressai a réplica do navio de guerra da Armada Portuguesa “Luzitânia”. “Foi oferecido por um comandante que em pleno mar corria perigo e, na aflição, ofertou uma réplica caso a tripulação se salvasse”, conta Jaime Dinis. O barco foi deixado numa caixa de madeira à porta do edifício, sendo muito considerado pela comunidade mais velha.
Os ex-votos representam uma parte considerável do espólio da Irmandade. “Ofereciam pequenos objetos, miniaturas de barcos e até cabelos naturais, tranças inteiras”, afiança Rita Pedras, acrescentando o mesário da cultura que “existem muitas cartas a pedir e outras a agradecer graças ao Bom Jesus, mas também algumas a suplicar para que os maridos se portassem bem, que cumprissem os seus deveres conjugais e que fizessem boa viagem quando iam para o Brasil”.
Já na sala da paramentaria, observamos ricos paramentos de seda, bordados a fio de ouro dos séculos XVIII e XIX. Casulas, dalmáticas, manípulos, estolas, véus de ombros, capas de asperges, bolsas de corporais e estandartes processionais podem ser contemplados pelos visitantes. “Esta é uma das salas mais ricas”, revela
Jaime Dinis, esclarecendo que “as melhores peças estão expostas, mas existe uma coleção riquíssima a aguardar por espaço no museu”. O manto da Senhora da Soledade prende a nossa atenção, destacando-se também vários conjuntos de adornos de andores.
Na sala das pratas uma confissão à entrada. “É nossa vontade chamar a este espaço a sala Maria Dias de Sousa”, revelou Rita Pedras, sublinhando que a viscondessa de Santa Cruz era a maior zeladora da Igreja do Bom Jesus. Naquela sala é possível observar doações feitas pela benemérita no século XIX. Peças de prata podem ser apreciadas no espaço onde existe também um frontal de altar em veludo com fio de ouro que, em dia do Senhor de Matosinhos, é levado para o altar principal da igreja.
Um salão nobre cuja decoração das paredes é feita com retratos de alguns dos maiores beneméritos da instituição, um retábulo da autoria de Guilherme Thedim e peças do escultor matosinhense Manuel Nogueira integram o espólio que pode ser apreciado pelos visitantes deste espaço museológico.
O provedor da Misericórdia, Luís Branco, revela ao VM que existe um projeto pronto para alargar e tornar o museu mais funcional. “Queremos intervir no piso inferior, tornando-o num local de exposição onde possam ser colocadas peças em prata ligadas à arte sacra e incluir as próprias obras feitas pela Misericórdia que ainda não se encontram expostas no museu”, referiu.
“Pretendemos também colocar um elevador que permita o acesso a pessoas com mobilidade condicionada e proceder a arranjos exteriores dado que o edifício apresenta algumas fragilidades”, ressalva.
No projeto consta ainda a adaptação de um espaço que possa acolher os peregrinos dos Caminhos de Santiago, para descansarem, beberem água ou um chá quente, lavar os pés ou mesmo tomar um banho para depois seguir viagem”, salienta o provedor.
Voz das Misericórdias, Vera Campos