Arrancou a 2 de outubro o primeiro curso a nível nacional realizado fora de uma universidade a versar sobre a história dos hospitais portugueses. A iniciativa consiste em onze sessões que serão ministrados entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, onde estarão em debate o que foi passado, o que é presente e o que será o futuro destas instituições de saúde no país. O curso livre, aberto a toda a comunidade em geral, é uma organização da Santa Casa da Misericórdia de Braga, em parceria com a Universidade do Minho, através do Centro de Investigação LAB2PT (Laboratório de Paisagens, Património e Território), contando também com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Bernardo Reis, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Braga e um dos membros da comissão diretiva do curso, destaca o caráter inédito desta atividade, onde o setor social, em parceria com uma universidade, traz o debate científico para fora dos muros académicos, realizando-se no Centro Interpretativo das Memórias da Misericórdia de Braga. “É de fundamental pertinência a realização [deste curso] e dos conteúdos que serão abordados, fazendo referência à evolução do setor hospitalar ao longo da história e particularmente a relação que este sempre teve com as Misericórdias”.
“Este curso é uma parceria entre médicos e historiadores e tem a particularidade de traçar, desde a Idade Média até à atualidade, a evolução dos hospitais portugueses: teremos a possibilidade de estudar e dar a conhecer não só a investigação que se faz, mas outros aspetos relevantes associados à história dos hospitais e é o primeiro curso desta índole fora das universidades portuguesas”, sublinha Marta Lobo, professora do Departamento de História da Universidade do Minho e também membro da Comissão Diretiva e Científica do evento. Vistos mais à lupa estarão detalhes como as doenças, as boticas ou mesmo a alimentação que era servida nos hospitais de outras eras.
De forma cronológica, a primeira sessão abordará a realidade dos hospitais na Idade Média, ministrada por Arnaldo Melo, investigador do LAB2PT. Seguem-se quatro sessões dedicadas à Idade Moderna: a 16 de outubro é a vez de Laurinda Abreu, do Departamento de História da Universidade de Évora, versar sobre as reformas e continuidades dos hospitais na época moderna. Os espaços e a sociabilidade dos hospitais naquela altura são o tema da terceira sessão, a cargo da professora Marta Lobo, no dia 30 de outubro.
Sendo os seminários realizados sempre de duas em duas semanas, às quartas-feiras, no dia 13 de novembro serão colocados em foco as boticas e os boticários nos hospitais da Idade Moderna, a cargo de Maria Fátima Reis, da Universidade de Lisboa, seguindo-se a análise da alimentação servida nos hospitais portugueses, na sessão de 27 de novembro, ministrada por Maria Antónia Lopes, da Universidade de Coimbra.
Em dezembro iniciam-se as sessões referentes à Idade Contemporânea: no dia 4, António Magalhães, investigador do LAB2PT, abordará as mudanças e permanências realizadas nos hospitais do século XIX. Em 18 de dezembro, Alexandra Esteves, da Universidade do Minho dá continuidade à análise dos espaços, das reformas e dos doentes dos hospitais dos anos mil e oitocentos.
Os desafios presentes chegam na 8º sessão, no dia 8 de janeiro, por responsabilidade do Constantino Sakellarides, da Universidade Nova de Lisboa, que abordará as implicações para os atuais hospitais. A 22 de janeiro, em recapitulação, Carlos Valério, membro do Conselho Científico do Centro Clínico Académico de Braga, mesário e vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga, falará sobre o passado, presente e o futuro dos hospitais portugueses. Em 5 de fevereiro, Paulo Mendo, ministro da saúde entre os anos de 1993 e 1995, dissertará reflexões sobre os hospitais do futuro.
O curso conta com 40 inscritos. Segundo Bernardo Reis, a caracterização destes participantes é bastante heterogênea e conta com médicos, enfermeiros, membros das Misericórdias, investigadores, académicos, professores e alunos. Mas como nasceu a ideia da realização deste evento? “Do trabalho desenvolvido pelo painel deste curso em várias universidades nas últimas duas décadas, tendo-se procurado disponibilizar este conhecimento para pessoas mais ou menos ligadas à saúde e que tivessem o interesse de saber mais sobre os hospitais de forma sistematizada”, sintetiza Marta Lobo.
“A Santa Casa da Misericórdia de Braga está sempre aberta na área da cultura e inovação para o bem da cidade de Braga e para a saúde em Portugal”, conclui Bernardo Reis.
Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha