Na sua intervenção, a docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se dedica à História da Sociedade e da Cultura, disse que a obra resultou de um convite do provedor José Vieira – o qual volta a integrar os novos corpos sociais da Misericórdia de Coimbra, durante mais quatro anos – e que resulta da pesquisa de oito jovens historiadores (Ana Isabel Coelho Silva, Ana Margarida Dias da Silva, Ana Maria Correia, Beatriz Cabral, Carlos Faísca, Cristóvão Mata, Gabriel Pereira e Ricardo Pessa de Oliveira), doutorados ou a terminar o seu doutoramento, que, como considera a coordenadora, “corresponderam plenamente ao que deles esperava”, quando os desafiou para “esta aventura”.
A ‘História da Misericórdia de Coimbra (1500-2000)’ encontra-se dividida em dois volumes. O primeiro abrange o período da Monarquia Absoluta e o segundo inicia com a instauração definitiva do Liberalismo, em 1834, indo até ao ano 2000. Ou seja, como recorda a historiadora, cobre quatro regimes políticos diferentes: Monarquia Constitucional, Primeira República, Estado Novo e Democracia.
Enquanto coordenadora deste trabalho e convicta de que a “historiografia precisa de algum distanciamento temporal”, Maria Antónia Lopes decidiu que o ano 2000 fosse o limite cronológico da obra, “sem qualquer objeção” por parte dos dirigentes da instituição. Assim, com a história de meio milénio, o passado da irmandade foi “resgatado com investigação séria e sem outra qualquer motivação”.
Com esta obra de reconhecido interesse para a compreensão da comunidade em que a Misericórdia de Coimbra se inseriu e auxilia os mais necessitados, “desemboca-se, portanto, na sociedade portuguesa ao longo de cinco séculos, na sua arquitetura política, jurídica, ideológica, religiosa, social e económica”.
Como também observa a Imprensa da Universidade de Coimbra (IUC), cuja diretora é a matemática e docente Carlota Simões, “esta obra é o resultado de uma investigação profunda em diversos arquivos”, sobretudo “o riquíssimo arquivo da Misericórdia de Coimbra, mas não só”, pois “representa a primeira monografia completa sobre a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, abrangendo cinco séculos de história”.
“Ao contar a evolução da instituição, a publicação oferece uma radiografia social, económica e política de Coimbra ao longo de cinco séculos, desde o período moderno até ao limiar do século XXI”, anota a IUC, relevando que esta obra, com a sua chancela e financiada por mecenas anónimos, é “um marco no estudo da assistência social, das políticas de saúde e do património cultural e artístico que a Misericórdia de Coimbra preservou e transformou ao longo de meio milénio”.
A estrutura adotada para os dois volumes é a mesma, com seis partes em cada um: ‘Enquadramento legal nacional e regulamentações internas’, ‘Irmãos, dirigentes e trabalhadores’, ‘Receitas, despesas e património’, ‘Ação social’, ‘Ação religiosa’ e ‘Património artístico’.
Com a edição de uma obra desta dimensão, além da gente da governança municipal e da fidalguia, a par dos bispos, cónegos e presbíteros, entre muitos outros, “encontramos o imenso mundo dos pobres” que, como lembra Maria Antónia Lopes, “nos seus toscos requerimentos [ou pedidos de auxílio, por escrito] expunham os seus infortúnios, revelando-se, aí, as múltiplas faces da miséria”.
Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos