O país está em estado de emergência, mas a nossa herança cultural permanece inalterada. Este ano, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (DIMS) chegou a casa de todos os portugueses, com iniciativas online, organizadas em todo o país, como visitas e exposições virtuais, jogos para as crianças, filmes e documentários. No dia 18 de abril, as Misericórdias e a sua União responderam ao repto lançado pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) divulgando visitas, apresentações e filmes sobre o seu património, nas mais diversas vertentes.
Na plataforma criada pela DGPC, surgiram dezenas de iniciativas promovidas pela UMP e Misericórdias, num total de quase 600 espalhadas pelo território, que convidaram à descoberta do património imóvel, móvel, documental e imaterial, sob o tema “Património Partilhado - Culturas Partilhadas, Património Partilhado, Responsabilidade Partilhada”.
Nesta data, as Misericórdias de Évora, Leiria e Coimbra inscreveram visitas virtuais a edifícios emblemáticos da sua história, como as igrejas, com informação (áudio, vídeo ou texto) complementar para enriquecer a experiência do visitante.
Com recurso a uma aplicação informática (disponível no Google Play), foi possível navegar a 360 graus pelo interior da igreja de Évora e apreciar a decoração barroca, onde se destacam os painéis de azulejos setecentistas, talhas douradas e telas retratando as obras de misericórdia. Através de uma plataforma semelhante, a Misericórdia de Leiria convidou a fazer um percurso imersivo pela antiga igreja, que hoje alberga o Centro de Diálogo Intercultural, espaço de memória de comunidades (muçulmana, cristã e hebraica) que povoaram a região.
Em Coimbra, a equipa do museu preparou duas visitas em vídeo, a partir de gravuras, plantas e documentos de arquivo, onde guia o público pela história da capela da Portagem, mandada construir para dizer missa aos presos da cadeia pública da cidade, e onde dá a conhecer a vida de Francisco Montanha, benfeitor e vice-reitor da universidade durante as invasões francesas.
Outras Misericórdias, como Vila Alva e Viseu, optaram por sensibilizar as populações para a importância de preservar e valorizar este património coletivo, partilhando fotografias e apontamentos históricos dos seus monumentos, nas redes sociais. Na vila alentejana, a efeméride foi assinalada destacando a fachada da igreja, classificada de Interesse Municipal, que se encontra integrada no Museu de Arte Sacra e Arqueologia de Vila Alva. Enquanto a congénere viseense evocou o “valor patrimonial da igreja, um dos edifícios mais icónicos de Viseu”, lembrando o contexto de renovação urbana da cidade, no século XVIII, em que o edifício foi construído, com uma exposição virtual para fruição dos concidadãos e novos públicos.
Com o mesmo objetivo, de conjugar o envolvimento às comunidades e a transmissão de uma herança secular, a União das Misericórdias Portuguesas recordou um conjunto de filmes, produzidos no âmbito do projeto “A Vida dos Outros”, que oferecem um panorama completo da produção cultural e artística das Misericórdias, ao longo dos séculos.
Organizado em quatro ciclos temáticos, núcleos museológicos, conservação do património, património documental e arquivístico, arte contemporânea e memória local e tradições, este ciclo de pequenos filmes proporcionou uma viagem única pelos tempos, lugares e personagens de uma história com mais de cinco séculos, aos espetadores confinados ao seu domicílio.
Neste período de encerramento físico de museus, igrejas e monumentos, as narrativas da UMPtv serviram para lembrar que este é “um tempo de partilha, de resistir através da cultura, da união e da imaginação, e o património é, sempre, um fator de identidade, de esperança e de criação”, como se lê na nota enviada pela UMP a 09 de abril a todas as Misericórdias.
Na foto: Évora. Com recurso a uma aplicação, foi possível navegar pelo interior da igreja da Misericórdia
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas