Emília Vilarinho, provedora da Santa Casa da Misericórdia, conta-nos que a génese da ideia começou quando o município formalizou a intenção de requalificar o antigo edifício da Guarda Nacional Republicana para servir de sede mais apropriada para albergar o arquivo municipal. “Apesar [do espólio da Misericórdia] ter sido objeto de recenseamento, apropriadamente acomodado e a documentação digitalizada, o anterior espaço não oferecia as melhores condições físicas e ambientais para o preservar”, confessa a provedora. A decisão do “translado” do rico arquivo da Misericórdia foi alvo também de debate interno, tendo sido a decisão aprovada por unanimidade.
“As histórias do município de Esposende e da Santa Casa estão intimamente ligadas. O município foi fundado a 19 de agosto de 1572 e a Santa Casa parcos anos mais tarde, em 15 de julho de 1579”, explica Emília Vilarinho, salientando o porquê deste “tesouro” da Misericórdia ser um rico contributo para o conhecimento da história local, dos seus momentos de glória e de crise, a documentar como se promoveu o desenvolvimento do concelho e a proteção das suas gentes”. Como exemplo desta “simbiose”, refere os estudos realizados principalmente por José Felgueiras, que revelam como a Misericórdia deteve o importante monopólio de atribuição de licenças para a construção naval de Esposende, empresa que pelas condicionantes geográficas foi sempre uma das molas-mestras daquela região.
A provedora reconhece também com gratidão o apoio da Câmara Municipal de Esposende, fundamental a seu ver, da vereadora da cultura Alexandra Roeger e da equipa técnica do arquivo, especialmente a sua principal responsável, Marília Capitão. Por sua vez, o autarca Benjamim Pereira, em declarações registadas pelo jornal Diário do Minho durante a cerimónia de comemoração dos 445 anos da Misericórdia, afirmou que a presente união se tratava de uma “aspiração antiga”, mostrando também o contentamento pelo culminar do trabalho.
Entre o variado conteúdo que integra o arquivo existem documentos de diferentes antiguidades, como o livro dos assentos dos irmãos de 1578, que investigadores da área afirmam tratar-se de um artefacto singular. Outro, de 1597, relaciona-se com o antigo Hospital de S. Manuel, antecessor do presente Hospital Valentim Ribeiro. O diploma de irmão benemérito concedido ao Conde de Agrolongo, de 1805; o primeiro exemplar do compromisso da Misericórdia de Esposende, datado de 1882; outros mais contemporâneos, como o alvará da compra do terreno deste hospital, em 1912, além de muitos outros documentos e imagens que passam a estar disponíveis ao alcance de toda a sociedade civil no geral e de académicos, ao alcance de um clique.