A iniciativa está integrada no Ciclo de Conferências 2018, dedicado à sua história, ao seu património e ao seu papel de ação social.
“A Misericórdia de Évora achou que devia de fazer algumas iniciativas de natureza cultural, relativas ao património e no sentido de se abrir à comunidade e revelar um pouco do que é este projeto das Misericórdias, que começou em Portugal nos finais do século XV. Fomos das primeiras e das mais importantes do país, aliás, a nossa importância ainda hoje é significativa”, sublinhou Francisco Figueira, provedor da Misericórdia de Évora.
“Considero que a salvaguarda do património das Misericórdias é algo que é muito importante para a própria comunidade. Um povo que não tem memória, não tem futuro, quem não cuida do seu passado, seguramente, não pode cuidar do seu futuro. E os valores que esse passado representa servem para que um povo se reencontre. Este tipo de ações são uma mais-valia, o património não pode ficar fechado”, referiu o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos.
Nesta segunda conferência, em que se abordou o património e a importância das igrejas das Misericórdias e do Barroco para a cidade de Évora, também esteve presente o professor da Universidade de Évora, José Alberto Machado. Para o presidente da UMP, a presença de um professor universitário é decisiva. “A parceria com universidades é estrutural nas Misericórdias. Aquilo que fazemos nas nossas diferentes áreas, terá outra robustez e outra credibilidade se for feito com o apoio das universidades, pois é lá que está o verdadeiro saber”, afirmou Manuel de Lemos. Saber esse, passado para as muitas pessoas que ocupavam os bancos da igreja e que, de papel e caneta na mão, tiravam notas sobre os assuntos abordados pelos conferencistas.
A igreja da Misericórdia de Évora situa-se no centro da cidade, entre o largo da Porta de Moura e a Praça do Giraldo, à sombra de jacarandás de porte médio que a protegem das temperaturas altas da região alentejana.
É uma edificação de meados do século XVI e é no seu interior que a linguagem decorativa barroca se destaca. O jogo de luz e cor, entre a talha dourada, a pintura e a série de azulejos em esmalte branco com decoração azul, composto por sete painéis que retratam as obras de misericórdia fazem com que a igreja, segundo o professor José Alberto Machado, seja “das mais belas do país. É uma igreja com uma qualidade rara”.
Ao longo da conferência e mais concretamente quando se falava sobre as características da igreja, os presentes olhavam atentamente para todos os pormenores que estavam à sua volta. E ao mesmo tempo que os olhos percorriam o interior da mesma, apercebiam-se de algumas diferenças, relativamente a outros edifícios do culto religioso.
“A estrutura das igrejas das Misericórdias é muito mais igualitária em relação às outras. Um grande número de igrejas tem este tipo de planta afilada com o altar sobreposto, como para transmitir a mensagem de que aqui somos todos iguais. Não há capelas para nenhuma outra irmandade ou coletividade e normalmente as igrejas das Misericórdias nunca são muito grandes pois não eram concebidas para receber multidões”, proferiu José Alberto Machado.
A estrutura, os azulejos, as cores, as pinturas, as telas e os frescos não deixaram ninguém indiferente. Muitos foram os que durante e no final da conferência levantaram questões e trocaram algumas experiências com os conferencistas.
“A adesão foi ótima, isto também é uma abertura da Misericórdia à sociedade. Para além de termos outras missões, temos grande responsabilidade na área do património material e imaterial e, tendo essa responsabilidade, temos de o divulgar, temos de o proteger, temos de o alimentar e temos de o acarinhar”, enalteceu Francisco Figueira.
A próxima conferência do ciclo da Misericórdia de Évora está agendada para o dia 20 de setembro com o tema “As obras de misericórdia: história e interpretação contemporânea”.
Voz das Misericórdias, Ana Machado