O inventário do património é uma peça essencial para a sua preservação, recuperação e valorização. Esta foi uma das ideias principais da 9.ª edição do Dia do Património das Misericórdias, realizada no dia 28 de setembro, em Pedrógão Grande, onde se falou também do papel do digital na promoção e divulgação da herança patrimonial deixada pelos nossos antepassados e da importância de a encarar como um ativo em termos turísticos.
Mas, antes de partir para essa valorização, é "fundamental" conhecer o que se tem, em que condições se encontra e qual o seu estado de conservação. Isso mesmo sublinhou Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), que defendeu a necessidade de os fundos comunitários voltarem a apoiar projetos de inventariação.
O dirigente recordou que, "nos tempos em que os fundos eram mais generosos" para esta área, foi feito o inventário de 85 Misericórdias, com a identificação de quase 26 mil peças. "Imagine-se o património das mais de 400 irmandades", frisou Manuel de Lemos, adiantando que esse trabalho terá continuidade, ao abrigo da parceria entre a UMP e a Santa Casa de Lisboa.
Também Paula Silva, diretora-geral do Património, que esteve no encontro em representação do ministro da Cultura, considerou o inventário "absolutamente imprescindível". "Se não sabemos o que temos, não lhe reconhecemos valor e não o conservamos", afirmou a responsável para quem é necessário "fazer chegar essa mensagem aos políticos", lembrando-lhes que, "às vezes, torna-se mais relevante proceder ao inventário do que outras ações com mais visibilidade".
Trabalho notável
A par da necessidade de inventariar, a diretora-geral do Património realçou a importância de preservar a herança recebida, apontando como exemplo o trabalho "notável" que as Misericórdias têm desenvolvido ao nível do "estudo e conservação" do seu património. "Não existem caminhos de desenvolvimento que possam ignorar o imensurável valor patrimonial, cultural, histórico e científico", afirmou.
O presidente da UMP não podia estar mais de acordo, citando, para reforçar a sua posição, o Papa Francisco quando disse que "um povo que não tem memória não tem futuro". Na sua intervenção, Manuel de Lemos sublinhou também a necessidade de olhar a salvaguarda do património como "um ativo", que funciona como "fonte de atração de pessoas e geradora de riqueza".
Mas, para que assim seja, é preciso "integrar conhecimento no património" e torná-lo "relevante", através de "estratégias de programação e de gestão", defendeu Luísa Arroz Albuquerque, docente do Instituto Politécnico de Leiria. Com investigação na área das políticas públicas de cultura, a professora destacou o papel do digital como ferramenta ao serviço do património, funcionando como "uma oportunidade para organizar, disseminar e comunicar melhor". Ou seja, se é verdade que o digital pode ser "uma ameaça", pela "uniformização cultural que promove", apresenta-se também como uma oportunidade, porque permite "chegar mais longe e trabalhar cada vez mais e melhor em rede".
Ora, é a pensar nesse mundo de oportunidades que o digital abre que a UMP está a avançar com a criação de um museu virtual que possibilitará que, em qualquer parte do mundo, se tenha acesso a informação sobre o vasto património das Misericórdias, "aguçando o apetite para uma visita in loco". O projeto está a ser trabalhado há algum tempo e a expetativa de Manuel de Lemos é que no próximo Dia do Património já haja "algum material" para ver.
Essa é uma das várias iniciativas da UMP na área da promoção e divulgação do património, onde se inclui um programa de voluntariado, que prevê a formação de idosos para visitas aos espaços. Está também a ser delineada uma estratégia para canalizar turistas, levando-os a conhecer o património das Misericórdias, esperando-se que as primeiras experiências ocorram em 2019.
Durante o encontro, foi ainda apresentado o livro das atas da 8.ª edição do Dia do Património das Misericórdias, realizado, no ano passado, em Monchique. No próximo ano será em Arouca.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva