“Uma obra que foi feita por muitos e que é para todos”, referiu a provedora anfitriã, após um momento musical com a soprano Patrycja Gabrel e o organista Daniel Oliveira, que marcou o arranque dos festejos. Segundo Vanda Oliveira, este projeto muito acarinhado pela irmandade só foi possível com o contributo de “todos os que apoiaram com a sua sabedoria e donativos”: FRDL, Centro de Estudos de História da Lourinhã (CEHL), autarquia, paróquia e mecenas locais que “fizeram donativos específicos e estão identificados no espaço museológico”.
Reunida a verba necessária, foi possível concluir a empreitada e assinalar esta dupla comemoração, com “a inauguração do núcleo e o novo dia de aniversário que de hoje em diante será o dia 23 de julho, visto que foi oficialmente instituída a 23 de julho de 1586”.
Chegados a este momento, a secretária de Estado da Cultura, Maria de Lurdes Craveiro louvou a “abertura à fruição pública dos verdadeiros tesouros” aqui preservados, em particular o núcleo de pintura antiga e o seu arquivo histórico, que permite “novas leituras comparadas e múltiplos circuitos de partilha de conhecimento”, como uma “verdadeira cápsula do tempo”. Na qualidade de investigadora e cidadã, dirigiu ainda um agradecimento a “todos aqueles que, de forma concertada, se dedicaram a este projeto, que incluiu parcerias com a universidade e associações de valorização patrimonial local”, e reconheceu o “trabalho exemplar da UMP na preservação e dinamização do património artístico e cultural das Misericórdias no seu todo”.
Em representação da União das Misericórdias Portuguesas, o presidente do Secretariado Regional de Lisboa, Luís Bispo, saudou a concretização desta obra e desejou “a continuidade do FRDL para reforço e garantia de uma estreita ligação da Misericórdia de Lisboa às suas congéneres” acrescentando que a “presença destes projetos em todo o território prestigia as Misericórdias e garante a nossa identidade comum”.
Sobre a verba aplicada na recuperação deste património histórico, Ângela Guerra, vogal da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), considerou tratar-se de uma “forma muito digna e absolutamente justa de fazer chegar o dinheiro dos jogos sociais para lá das fonteiras da capital do país” e manifestou o seu “compromisso em fazer com que o Fundo não morra”, apontando como possível solução o recurso a fundos comunitários.
Seguiu-se a visita pelo núcleo museológico, com a orientação de Vanessa Antunes, conservadora-restauradora de pintura, e Joana Pinho, historiadora de arte, ao longo de várias salas, que detalham aspetos da atividade assistencial e cultual da irmandade.
O espaço pode ser visitado de terça-feira a domingo, proporcionando uma viagem ao longo de mais de 450 anos de história, através de peças da antiga gafaria da Lourinhã, pinturas do mestre da Lourinhã e de Lourenço de Salzedo, provenientes do mosteiro de Vale Benfeito, bandeiras e outros objetos processionais, que oferecem uma narrativa intemporal sobre a instituição.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas