Reavivar a memória coletiva, através da evocação de manifestações culturais, participação ativa da comunidade e valorização da transmissão de saberes, foi um dos objetivos desta iniciativa que contou com ampla adesão da sociedade, num total de 1200 atividades. Segundo nota informativa da DGPC, a valorização da memória é fundamental para “que o passado não seja esquecido, fazendo com que a história se eternize na nossa consciência e se transmita de geração em geração”.
A música foi veículo de transmissão de memórias em Aveiro e Vila do Bispo. Na cidade dos moliceiros, a igreja da Misericórdia foi palco de um concerto do grupo coral “Voz Nua”, enquanto na vila algarvia a interpretação do cancioneiro popular ficou a cargo do grupo coral da Misericórdia.
Noutros pontos do país, a relação entre as comunidades, lugares e sua história foi valorizada através da recriação e evocação de costumes de outros tempos, marcados pela lavoura no campo, com o envolvimento da comunidade. Assim foi em Seia, onde o espaço museológico da Misericórdia foi responsável pela encenação da tradicional desfolhada de setembro no terreiro da cidade. Também em Odemira, a igreja da Misericórdia foi palco de uma tertúlia sobre tradições variadas (viola campaniça, cante de improviso, etc), numa iniciativa da autarquia.
A memória dos lugares foi igualmente explorada através de visitas-guiadas pelos edifícios e monumentos emblemáticos detidos pelas Misericórdias. Em Coimbra, a galeria dos benfeitores esteve aberta ao público para dar a conhecer os principais testamentários da instituição: D. Manuel Soares de Oliveira, Caetano Correia Seixas, e Sebastião de Almeida e Silva. Mais a norte, foi possível visitar locais de culto com mais de um século de história, como a capela da Senhora da Penha de França (Ponte de Lima), ligada à assistência espiritual dos presos em finais do século XVI, e a igreja da Misericórdia de Póvoa de Varzim, datada de início de XX.
Por sua vez, em Braga, os visitantes do Centro Interpretativo de Memórias tiveram oportunidade de conhecer o espólio de farmácia do Palácio do Raio numa visita orientada pela professora Alice Dias, do Departamento de Química da Universidade do Minho.
A história oral, enquanto instrumento identitário, ganhou igualmente expressão em localidades como Sardoal e Crato. No primeiro caso, através da realização de uma exposição nos claustros do Convento de Santa Maria da Caridade, a partir de testemunhos dos utentes de várias respostas sociais. No segundo, a partir de uma mostra de fotografia no espaço público, onde estão representadas pessoas e momentos marcantes da vila.
A pensar nas pessoas com perturbações de memória, a Misericórdia de Viseu promoveu um colóquio sobre as potencialidades da arte na estimulação cognitiva de pessoas com demência, em parceria com o Museu Nacional Grão Vasco.
A própria União das Misericórdias Portuguesas assinalou a efeméride com um debate alargado entre as várias associadas, investigadores e representantes de entidades locais, tendo em vista a partilha de boas práticas e reflexão sobre a gestão dos bens patrimoniais das instituições (mais na próxima edição).
O diálogo e troca de experiências esteve na génese destas e outras iniciativas realizadas no âmbito das Jornadas Europeias do Património e Ano Europeu do Património Cultural.