Há muito desejada pela Mesa Administrativa, a intervenção contemplou o restauro do espólio artístico e a sala do despacho

A Misericórdia de Óbidos viveu um "dia de júbilo" com a reabertura da sua igreja após obras de restauro e de conservação, que abrangeram o espólio artístico e a sala do despacho, agora transformada num espaço multiusos que ficará "ao serviço da comunidade". É mais um projeto apoiado pelo Fundo Rainha D. Leonor.

Em dia de inauguração, que teve lugar a 27 de outubro, o provedor Carlos Orlando Rodrigues era o rosto da felicidade por ver concretizada uma obra "há muito desejada pela Santa Casa, pela população da vila de Óbidos e pela autarquia".

"É dia de júbilo", afirmou o responsável, salientando que a preocupação "dominante" da Mesa Administrativa é "o apoio aos mais necessitados e abandonados", consciente, no entanto, da "obrigação moral de defender e de dar a conhecer" o seu património, "um bem precioso da história e da cultura da região e da Misericórdia".

A intervenção na igreja, erguida no século XVI, custou cerca de 122 mil euros, tendo sido comparticipada em 78 mil euros pelo Fundo Rainha D. Leonor. Inês Dentinho, do conselho de gestão deste fundo, explica que o projeto abrangeu "três frentes", a começar pela parte "estrutural", com a resolução de problemas de infiltrações.

A segunda parte consistiu na "salvaguarda" e restauro do património artísticos da igreja, onde se incluem as telas existentes no altar, azulejo e mobiliário, como o arcaz e o cadeiral. O projeto contemplou também a reabilitação da sala do despacho, que está agora transformada num espaço multiusos, preparado para receber eventos, além das reuniões dos órgãos dirigentes irmandade.

"Ao requalificar a sala, com as condições que tem agora, estamos também a dar sustentabilidade [ao espaço]", salientou Inês Dentinho. Isto porque, como explicou o provedor, o objetivo é que "o espaço seja usado e rentabilizado". Segundo Carlos Orlando Rodrigues, há já manifestações de interesse para que a sala possa servir para "filmagens" e até para "um casamento pelo civil".

A par da requalificação do painel da cobertura e da substituição do piso, a intervenção na sala do despacho incluiu o restauro de algum património, como é o caso da bandeira de Nossa Senhora da Misericórdia, da autoria do mestre Diogo Teixeira, e de uma roda "de funções", peça rara nas irmandades portuguesa - só existirá em Óbidos e em Braga - que servia para distribuir os cargos entre os mesários.

"Quando entramos nesta igreja, trememos. Arrepiamo-nos com esta beleza", confessou Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), que destacou o "entusiasmo e a preocupação" da irmandade de Óbidos pela reabilitação do seu património, mas também por mostrar essa riqueza, tornando-a um bem "de todos".

"Ao recuperarmos o passado e ao pô-lo em rede, estamos a construir o futuro e a acrescentar valor às terras", afirmou Manuel de Lemos, sublinhando o trabalho "notável" que o Fundo Rainha D. Leonor tem desempenhado no apoio à salvaguarda do património das Misericórdias. Das 143 intervenções financiadas até agora, que totalizaram mais de 23 milhões, 28 envolveram a reabilitação de património, avançou Inês Dentinho à margem da inauguração das obras na Misericórdia de Óbidos.

Presente na sessão, o presidente da câmara salientou, também, a importância de, "mesmo em tempos difíceis como aqueles que estamos a atravessar, continuar a honrar o legado que nos foi deixado", cumprindo a "obrigação de garantir que o património é bem tratado".

Depois da igreja, a Misericórdia de Óbidos está agora empenhada em que o seu órgão, que "não toca há mais de 100 anos", volte a ser utilizado. Neste momento, decorrem trabalhos de afinação e o objetivo é que venha a ser integrado no festival de órgão de Torres Vedras e do Convento de Mafra, revelou o provedor.

Também o património da irmandade associado à celebração da Semana Santa irá ser valorizado, com a integração da Misericórdia na rede europeia deste tipo de eventos, que deverá concretizar-se em breve por "sugestão" da congénere de Braga e da UMP.

Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva