Embora previsto para o Dia de Nossa Senhora da Conceição, mas com as condições climáticas pouco favoráveis a obrigar a um adiamento, foi no dia 11 de dezembro que se realizou, pela primeira vez, a recriação do cortejo de oferendas, que uniu em romaria pelas ruas do centro da cidade agricultores, cavaleiros e motards, que ajudaram a reavivar uma tradição que há muito deixou de se fazer, mas que é exemplo do espírito solidário que existia na comunidade em prol da Misericórdia.
Para a realização do cortejo, a Santa Casa contou com o apoio e a participação de um conjunto de associações e entidades portalegrenses, incluindo a Câmara Municipal e a Associação de Agricultores. Conforme explica a provedora, Luísa Moreira, esta ação promoveu “uma prática efetiva de solidariedade”, em que todos foram convidados a dar o seu donativo e representa um dos “desígnios” desta Mesa Administrativa, eleita recentemente, que pretende “recuperar tradições” e “voltar a aproximar a comunidade da instituição”.
“Esta tradição não era só de Portalegre”, destaca Luísa Moreira, explicando que “a ideia era que quem tivesse mais posses oferecesse o que pudesse às Santas Casas”, sendo que em Portalegre “essa tradição fez-se até meados do século XX e faz parte da memória de muitos portalegrenses e da cidade”, constata.
Luísa Moreira diz não ter tido a oportunidade de assistir a nenhum cortejo, no entanto, recorda os inúmeros relatos que ouviu dos seus avós sobre “como era engraçado, com os lavradores a chegar nos seus cavalos, trazendo o gado que era oferecido para ser leiloado, mesmo em frente ao edifício da Misericórdia, e como os próprios lavradores disputavam os melhores animais, chegando a comprar o gado que tinham trazido, porque o essencial era ajudar a Santa Casa, já que as verbas revertiam na totalidade para a instituição”. Os valores angariados, recorda a provedora, “davam para que a Santa Casa sobrevivesse quase metade do ano”.
Sendo, por isso, uma tradição que foi muito importante para a Misericórdia de Portalegre, Luísa Moreira assume que gostaria que os valores solidários e de ajuda ao próximo praticados nessa época fossem, no presente, retomados e que a cidade reforçasse os seus laços com a instituição.
“Com a evolução dos tempos fomos recuando no domínio da humanidade, as pessoas passaram a olhar mais para o próprio umbigo do que a preocuparem-se com os outros e a solidariedade passou a ser uma palavra vazia”, lamenta a provedora, assegurando que uma das principais metas da Mesa Administrativa passa por “devolver a instituição à comunidade, à cidade”.
“Foi isso que procurámos fazer com esta recriação, foi uma chamada de olhares para a instituição, para que Portalegre volte a olhar para a Misericórdia com carinho, que se recorde que pertence a todos”.
O objetivo de reavivar esta tradição, tal como o despertar a curiosidade dos portalegrenses, foi conseguido e muitos foram os que assistiram ao passar do cortejo. Fosse nas ruas ou até às janelas das casas, cavaleiros e motards foram recebendo aplausos à sua passagem e foram calorosamente recebidos por algumas dezenas de pessoas junto ao edifício da Santa Casa, onde culminou o trajeto e se procedeu à entrega das oferendas.
A provedora enaltece o envolvimento de todos os que tornaram possível esta iniciativa e disse não ter palavras para agradecer “a todas as entidades envolvidas, aos jovens do Centro Hípico, aos agricultores que se juntaram com os seus cavalos, ao Grupo Motard e a todos os que vieram por bem e com o coração participar no nosso cortejo”, sublinhou, agradecendo também “às pessoas de Portalegre que estiveram presentes para assistir, que aplaudiram todos os envolvidos e nos fizeram sentir que valeu a pena”.
Já a pensar no próximo ano, Luísa Moreira garante que é um evento a repetir e que irão trabalhar para que seja “mais um evento marcante para a cidade e para a instituição”, prometeu.
Além do cortejo, a Santa Casa de Portalegre também promoveu, ainda na senda do espírito de Natal, uma feira solidária na instituição. Com uma grande variedade de produtos para venda, como bolos, bordados e diversos trabalhos realizados pelos utentes, esta feira “foi também um convite aos portalegrenses para visitarem a Misericórdia”, sublinha a provedora Luísa Moreira.
Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão