D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, apresentou no passado dia 28 de setembro, a obra “Sob o Manto da Misericórdia”. A publicação traça a história da Santa Casa da Misericórdia do Porto desde 1499 até aos dias de hoje e envolveu 35 investigadores.
António Tavares, provedor da Misericórdia do Porto, vê assim o concretizar de um sonho que teve início em maio de 2013 quando a Misericórdia do Porto e o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica assinaram o protocolo para que fosse escrita a história da Misericórdia portuense.
D. Manuel Clemente, então bispo do Porto, foi também impulsionador da ideia. Para além da Universidade Católica, a obra teve contributos da Universidade do Porto através de investigadores da faculdade de psicologia, economia e letras, bem como da Universidade do Minho.
“Sob o Manto da Misericórdia é uma obra que fala de homens e mulheres que ajudaram a construir e a definir a Misericórdia do Porto”. António Tavares sabe que há muito mais a escrever, pois “quase todos os dias ‘tropeçamos’ em factos que ligam a história da Santa Casa ao passado”. Por isso, o provedor sente “alegria neste encontro com o passado” e também confiança que “este passado no presente nos ajude a preparar o futuro”.
Francisco Ribeiro Silva, mesário do culto e cultura, historiador e também autor de alguns dos textos, corrobora da mesma opinião de António Tavares. “Conhecendo o passado, as novas gerações podem perceber o verdadeiro espírito da instituição e melhor prepararem o futuro”, frisa, recordando que desde 1934, por meio de Artur Magalhães Basto, nada era escrito sobre a história da Santa Casa do Porto.
D. Manuel Clemente enalteceu o papel das Misericórdias um pouco por todo o país e pelo mundo e elogiou também a sua capacidade de dinamismo. “A Santa Casa demonstrou, ao longo de toda a sua história, ser uma instituição dinâmica, que se adaptou aos tempos e às circunstâncias. As Misericórdias são das instituições que mais prevaleceram e subsistiram na sociedade ao longo dos tempos. Que conseguiram criar e inventar novas respostas”.
Manuel Linda, bispo do Porto, aproveitou o Dia Mundial do Turismo, comemorado precisamente no dia de apresentação da obra, para uma metáfora com o urbanismo. “Os turistas descobriram a beleza do urbanismo físico da cidade, das casas e dos palácios. Mas o urbanismo espiritual é também de uma beleza imensurável”.
O prelado adjetiva a Santa Casa do Porto como sendo o antídoto para a solidão de tantos. E se os factos e a história podem ser escritos em páginas, as emoções não. “Essas emoções dizem respeito às vidas salvas, protegidas, acarinhadas, acompanhadas. Antídoto de tanta solidão que encontra resposta nas obras sociais da Santa Casa” e conclui: “É um duplo orgulho saber que há uma história escrita, com imensa qualidade, e uma história sentida. Tanto numa como noutra, a Misericórdia do Porto está fortemente presente”.
O diretor do Centro de Estudos História Religiosa da Universidade Católica também esteve presente na sessão de lançamento desta obra. Paulo Fontes desafiou a Santa Casa do Porto e outras Misericórdias do país, dotadas de património cultural, material e humano a confiarem nas universidades e nos investigadores de forma a fomentarem trabalhos de investigação, como o que agora foi apresentado.
Aproveitando a presença do patriarca de Lisboa e D. Manuel Linda, estendeu o desafio para que se pudesse escrever a história das dioceses.
A obra "Sob o Manto da Misericórdia" é composta por quatro volumes e foi coordenada pela professora Inês Amorim da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. “Esta não é uma obra fechada. Pelo contrário, está aberta a novos conhecimentos e pretende ativar a reflexão, olhando para o futuro”, disse a responsável.
Voz das Misericórdias, Vera Campos