Intitulado ‘A Misericórdia da Redinha: Séculos XVII-XIX - História, Arte e Património’, o livro foi coordenado pelo historiador Ricardo Pessa de Oliveira, que é também autor de um dos cinco capítulos e que já havia publicado uma outra obra sobre a irmandade. "Permanecia por estudar o património artístico encomendado pela instituição que chegou aos nossos dias", refere, frisando que o colóquio, do qual resultou o livro, foi "uma tentativa de colmatar essa lacuna".
A arquitetura da Casa da Misericórdia, a escultura de Nossa Senhora da Soledade (padroeira da irmandade), a pintura das telas da bandeira processional e do painel do altar da igreja, bem como o sino datado das primeiras décadas da confraria, foram os objetos de estudo.
A componente arquitetónica esteve a cargo de Joana Balsa Pinho, que confirmou que a Casa da Misericórdia da Redinha é um edifício do XVII, mas "apresenta traços da arquitetura quinhentista destas instituições", e deu conta de uma campanha de obras posterior à documentada de 1734. Tal "não deixa de ser surpreendente, dadas as dificuldades financeiras que a instituição enfrentou nessa centúria, vendo-se obrigada a recorrer a sucessivos credores", assinala Ricardo Pessa de Oliveira.
Já Vítor Serrão debruçou-se sobre as telas da bandeira processional e sobre o painel do altar. Em relação às telas, da segunda metade do XIX, o autor destacou "a particularidade de, entre as figuras abrigadas sob o manto protetor da Virgem, ao lado de um imperador e de um rei", surgir uma figura de óculos, "por ventura, uma figura local".
Sem chegar a nenhuma conclusão, Vítor Serrão deixa algumas hipóteses sobre a identidade dessa figura: o fundador da Misericórdia, um notável da vila que chegou a ter foral manuelino, uma referência simbólica ao frei Miguel Contreiras ou o artista que compôs as telas. Em relação ao painel da Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel, existente no retábulo da igreja, Vítor Serrão referiu que o mesmo tem "o gosto e a influência das obras de Pascoal Parente", pintor napolitano que chegou a Coimbra em "meados de setecentos", pode ler-se na apresentação do livro feita por Ricardo Pessa de Oliveira.
Nos restantes dois capítulos, Diana Pereira aborda o vestir da imagem de Nossa Senhora da Soledade, pertencente a esta irmandade, e Rodrigo Teodoro de Paula analisa o sino da igreja, que tem a particularidade de possuir em relevo "uma rara representação de Nossa Senhora da Misericórdia com o manto protetor".
"Não existindo documentos anteriores ao século XX, procurou-se, com o que existe e a experiência dos investigadores convidados, trazer novos elementos e acrescentar conhecimento", explica Ricardo Pessa de Oliveira, que escreveu o primeiro capítulo do livro, com uma síntese da história da instituição.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva