O projeto editorial iniciado em 2010 insere-se numa estratégia de valorização da história, património e tradições locais que, segundo o provedor da instituição, permite “partilhar memórias e construir comunidades sociais e abertas” no contexto de um interior envelhecido. Numa perspetiva transdisciplinar, João Azaruja considera que os arquivos e bibliotecas podem assumir um papel ativo na criação de conhecimento e transformação das comunidades para que não sejam “meros repositórios patrimoniais”.
Socorrendo-se de uma linguagem acessível, o historiador local José Calado procurou cativar públicos de todas as idades envolvendo os compatriotas no processo de criação da obra. Esta é uma das novidades que destaca no décimo volume. “A ideia foi desafiar uma série de pessoas, autarcas e não só, a falar sobre a escola primária e a partilhar testemunhos livres”. Para o autor do estudo, esta diversidade de fontes – arquivos municipais, nacionais e testemunhos orais – “enriquece a obra”, por um lado, e ajuda a “cativar mais pessoas”, por outro.
No decorrer da investigação, o redondense aborda a evolução e acesso ao ensino e constata que o “analfabetismo e as dificuldades no acesso persistem no século XX, um século marcado por diferentes regimes políticos [monarquia, I República, Estado Novo, pós-25 de Abril]”.
O provedor guarda memórias desses tempos. “As raparigas mais velhas não iam à escola porque ficavam a cuidar dos irmãos e os rapazes começavam a trabalhar muito cedo. No Estado Novo, introduz-se a frequência obrigatória e o GNR ia a casa das famílias buscar os absentistas”, recorda João Azaruja.
Desde 2010, a Misericórdia do Redondo publicou volumes dedicados a beneméritos, topografia, fenómenos culturais (festividades, romarias, ofícios) e desportivos do concelho, estimulando a publicação de obras por outras entidades (paróquias, autarquia, etc).
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas