A Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, mais conhecida como Capela Dourada, contígua à igreja do Hospital de Jesus Cristo, em Santarém, reabriu no passado dia 31 de maio, após os trabalhos de conservação e restauro da talha dourada e das telas pelos técnicos da empresa Água e Cal e financiamento do Fundo Rainha D. Leonor, criado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em parceria com a União das Misericórdias Portuguesas (UMP).
Para o historiador Vítor Serrão, esta reabertura é um “facto muito importante, não só por devolver a este espaço funções de culto e de turismo cultural, mas também por se tratar de um dos melhores espaços da ‘arte total do barroco português’, onde a talha, o azulejo, a imaginária, o mármore fingido e as 14 pinturas brilham em uníssono”.
As obras de reabilitação, que começaram no início de junho de 2020, permitiram restaurar e requalificar o altar-mor, de estilo barroco, assim como as molduras e respetivas telas com representações de Santos da Ordem Franciscana. Os trabalhos incluíram, ainda, a criação de um circuito de visita e um novo projeto de luminotecnia.
“Esta belíssima capela é considerada uma joia da arte barroca nacional. Estamos todos muito felizes e gratos pela conclusão do restauro destas 14 telas e todo o trabalho envolvente que permite, agora, mostrá-lo ao público. Este espaço merece ser visto”, afirmou o provedor da Misericórdia de Santarém, Hermínio Martinho, nesta sessão de reabertura da capela, destacando o trabalho “notável” assumido pela empresa de restauro.
A intervenção, que foi avaliada em 150.000 euros, teve um apoio do Fundo Rainha D. Leonor no valor de 109.776,27 euros, sem o qual, nas palavras do provedor, não teria sido possível “devolver à cidade e ao país” este importante monumento.
Mandada construir pela Irmandade da Ordem, em 1666, e classificada como monumento nacional, a Capela Dourada, antes aberta a oração e visita, tinha sido encerrada por apresentar danos nos suportes e sinais de degradação que comprometiam a estabilidade física e a leitura formal e estética da estrutura.
Hermínio Martinho aproveitou o momento para destacar que a atual mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Santarém, que comemora este ano o seu 521º aniversário, está bem consciente das suas responsabilidades e prioridades, que passam “pela constante melhoria das condições de bem-estar e qualidade de vida dos utentes”.
Mas, a par desse aspeto, garantiu o provedor, a Misericórdia “tudo continuará a fazer para, também, continuar a acautelar o património artístico e arquitetónico” que tem à sua guarda.
“Esta aposta no património é muito importante porque é um elemento agregador da comunidade”, disse o provedor ao VM, reafirmando que o “dilema” que a Misericórdia vive, entre reabilitar os seus equipamentos de cariz social - premente para comodidade dos seus utentes e ao qual foi dando prioridade - ou a preservação do património, diluiu-se com a candidatura ao Fundo. “Dada a urgência das respostas sociais, as Misericórdias nem sempre têm meios para conservar e restaurar o seu património, daí a importância deste apoio”, vincou.
Um aspeto também focado pelo presidente da União das Misericórdias Portuguesas na sua intervenção: “a riqueza do património das Santas Casas, a sua preservação e divulgação, servem, também, para manter o espírito universalista de partilha que as caracteriza”, afirmou.
Assinalando o facto de esta reabertura ter acontecido precisamente no Dia das Misericórdias [festa litúrgica da Visitação de Nossa Senhora, celebrada a 31 de maio], Manuel de Lemos apontou que “esta parceria [Fundo Rainha D. Leonor], que em boa hora a Santa Casa começou, primeiro em nome da última pedra e depois no apoio às Santas Casas, tem sido exemplo de uma parceria virtuosa”.
Na sua criação, em 2015, operava apenas na área dos equipamentos sociais, mas, a partir de 2017, o FRDL passou a destacar 25% da verba também para a área da conservação do património, o que, para Manuel de Lemos, faz deste instrumento um excelente exemplo de um mecanismo eficaz de coesão social e territorial.
Nascido de um acordo de parceria entre a Misericórdia de Lisboa e a União das Misericórdias Portuguesas, assinado a 23 de abril de 2014, o Fundo Rainha D. Leonor vem dar apoio a causas sociais prioritárias das Misericórdias de todo o país, cumprindo, deste modo, a vontade da instituição em intervir além das fronteiras da capital, no princípio da autonomia cooperante, tendo já aprovado 154 projetos em todo o país, num investimento superior a 23 milhões de euros.
Voz das Misericórdias, Filipe Mendes