Tela "Mater Misericordiae", da Santa Casa de Sesimbra, foi alvo de restauro e o trabalho está agora publicado em livro.

Um estudo sobre o painel de Gregório Lopes, pintado para a Misericórdia de Sesimbra, em 1535-38, mereceu às investigadoras Vanessa Antunes e Marta Manso o Prémio Científico Sesimbra 2017. O prémio foi entregue a 17 de novembro, no mesmo dia em que foi apresentado o livro com os resultados do estudo sobre a obra, técnicas e materiais utilizados pelo artista. Segundo nota da autarquia a tela "Mater Misericordiae" é “uma das grandes obras da pintura portuguesa da primeira metade do século XVI” e pode ser apreciada no Núcleo Museológico da Capela do Espírito Santo dos Mareantes, em Sesimbra.

“Este quadro estava aqui no chão, estava escondido, e a Misericórdia não tinha local onde o colocar”, contou ao VM Manuel Bernardino, provedor da Santa Casa de Sesimbra. Foi então, continua o provedor, “que a Câmara Municipal avançou com a criação de um espaço museológico, mas não tinha peças suficientes. Por isso fizemos um protocolo de cedência a título de empréstimo à autarquia de várias peças, continuamos a ser proprietários das peças, mas a autarquia tem a responsabilidade de as restaurar e preservar”. 

E é isso que a autarquia tem vindo a fazer. Em 2014, no âmbito das comemorações dos dez anos da reabertura da Capela e do Hospital do Espírito Santo dos Mareantes, o quadro “Mater Misericordiae” começou a ser alvo de uma intervenção de conservação e restauro. Ao mesmo tempo, uma equipa multidisciplinar realizou um estudo aprofundado sobre o painel.

Estudar o rigor dos pigmentos das tintas utilizadas, os cambiantes das cores, as técnicas de aplicação, entre outros, estiveram na base da investigação que viria a valer às investigadoras envolvidas o Prémio Científico Sesimbra 2017. 

À medida que a investigação foi avançando foram confirmadas várias características e técnicas anteriormente atribuídas a Gregório Lopes, mas foram também desvendadas algumas novidades. “Na pigmentação foi descoberto um novo tipo de polimento, que torna a carnação mais transparente e mais humanizada, uma caraterística do pintor que não foi detetada em mais nenhuma obra”, revelou Vanessa Antunes, investigadora do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

O estudo científico premiado, que utilizou diversas técnicas de análise que permitiram conhecer mais sobre o pintor régio Gregório Lopes, está agora perpetuado no livro “Descobrindo o Manto: Decifrando a Paleta e a Técnica do Pintor Gregório Lopes com um Estudo Sobre a Pintura “Mater Misericordiae””, da autoria das investigadoras Vanessa Antunes e Marta Manso.

Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves

Legenda: "Mater Misericordiae". Tela pode ser apreciada no Núcleo Museológico da Capela do Espírito Santo dos Mareantes. FOTO CM SESIMBRA.