Ao fim de um ano de obras de remodelação profundas, desde o chão ao teto, passando pelas paredes, altares, pinturas, sacristia e zona envolvente, a capela Nossa Senhora das Necessidades, da Santa Casa da Misericórdia da Soalheira, no concelho do Fundão, abriu portas ao culto.
Foi uma das obras apoiadas pelo Fundo Rainha Dona Leonor, criado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em parceria com a União das Misericórdias Portuguesas. O apoio de 126 mil euros, a maior fatia da obra que custou cerca de 200 mil euros, veio em boa hora já que era avançado o estado de degradação da capela da Nossa Senhora das Necessidades.
“Os retábulos e pinturas, já nem era necessário, era urgente”, frisou o provedor da Misericórdia da Soalheira, Francisco Adão. “Este fundo foi a solução encontrada para recuperar um património que estava degradado. As paredes foram revestidas com isolante, proteção, um trabalho muito demorado, foi necessário retirar humidades, térmitas e parasitas que prejudicavam a capela.”
Além da recuperação da capela, a intervenção teve também em conta a preservação da história do monumento, cuja referência mais remota data de 1623, ainda anterior à fundação da Misericórdia da Soalheira, instituída por alvará de 30 de janeiro de 1694, fazendo do templo a sua sede e tomando como padroeira Nossa Senhora das Necessidades, há muito venerada na Soalheira, pese embora o patrono da vila seja S. Lourenço.
“Das paredes foram retirados os azulejos que nada tinham a ver com a capela original e foi restabelecido o granito, o chão foi protegido, por causa das humidades, e feito em madeira, o retábulo mor, os retábulos laterais, o teto, foi tudo restaurado e pintado, todas as imagens foram restauradas e a sacristia também foi pintada, restaurada e melhorada.”
Ao montante disponibilizado pelo Fundo Rainha Dona Leonor, juntou-se um apoio de 25 mil euros da Câmara Municipal do Fundão e o restante resultou de donativos da população que há muito venera Nossa Senhora das Necessidades, participando na missa que todas as terças-feiras se realiza no templo, o único momento em que é aberto ao culto e ao público.
“Abrimos a capela às terças feiras que é dia de culto, por volta das 18h, a missa é às 19h e depois nos domingos está aberta consoante a boa vontade de alguns voluntários. Vamos ver se conseguimos que esteja aberta, durante o sábado e domingo algum tempo, pelo menos duas horas.” Até porque o espaço envolvente é muito apelativo e utilizado pela população, com um coreto, uma fonte, um cruzeiro, bancos de jardim, um relvado e muitas oliveiras.
O recinto que envolve a capela também foi requalificado, “foi todo empedrado, com a relva, que estamos a manter e as oliveiras que já cá estavam e outras que plantámos, fizemos uma requalificação total ao recinto, ficou mais apelativo, com mais bancos, mais sombra e bem tratado, porque temos poucos espaços como este na vila.”
Mas este não é o único espaço que a Misericórdia da Soalheira disponibiliza à população. Em frente ao recinto da capela, do outro lado do bairro, a instituição dispõe de um edifício para convívios, festas, espetáculos, feiras e outros momentos em comunidade.
Depois da capela, este é o espaço que a mesa administrativa liderada por Francisco Adão pretende recuperar. “O projeto está feito e aprovado e já temos um apoio de 70 mil euros, vamos já começar as obras. O nosso objetivo é estar pronto em abril do próximo ano, na altura da festa.”
A celebração de Nossa Senhora das Necessidades é sempre no domingo a seguir à Páscoa, conhecido como domingo de Pascoela. Mas, a festa começa na noite anterior com a procissão de S. José, em que são levadas para a capela as bandeiras e demais insígnias e a imagem de S. José, acompanhada da luz das velas. À chegada a procissão é recebida com lágrimas de fogo de artifício.
No domingo, depois da missa, a imagem de Nossa Senhora das Necessidades percorre a Soalheira durante mais de uma hora para recolher, de novo, à capela onde é visitada, pelos devotos, durante a tarde.
No resto do ano, permanece no altar mor da capela, ladeada, à direita, de Cristo crucificado e, à esquerda, de S. Bartolomeu.
As lendas associadas a Nossa Senhora das Necessidades são várias, mas, na Soalheira, a que prevalece é a da Senhora que aparece e fala a uma menina abandonada na serra.
Voz das Misericórdias, Paula Brito