A Santa Casa da Misericórdia de Tomar inaugurou uma exposição dedicada ao seu património cultural, no dia 01 de março, data em que se celebra a fundação do castelo e da cidade templária. Motivada pelo 75º aniversário da Casa do Concelho e 858º aniversário da cidade, a Santa Casa de origem quinhentista decidiu associar-se às comemorações do Ano Europeu do Património Cultural, em resposta ao desafio lançado pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP), no início de 2018.
“Sensibilizados pelo trabalho do Gabinete de Património Cultural da UMP, quisemos mostrar o espólio artístico e divulgá-lo à comunidade. Trabalhamos numa rede, onde a UMP está incluída, e queremos mostrar que as Misericórdias têm património e que existe uma união”, asseverou o vice-provedor, António Alexandre, em conversa com o VM.
Documentos históricos, esculturas, bandeiras processionais (séculos XVII a XIX), fotografias e quadros de provedores e beneméritos estiveram em destaque no salão nobre da instituição, entre os dias 1 e 9 de março, para “mostrar e valorizar o património histórico e cultural e lembrar os que fundaram e trabalharam nestes 507 anos para a Misericórdia de Tomar”.
As surpresas não se ficaram por aqui uma vez que foi possível ver de perto as coroas e pendão do Espírito Santo, que apenas saem à rua de quatro em quatro anos, nas emblemáticas Festas dos Tabuleiros de Tomar. Uma “oportunidade única” para irmãos, colaboradores e comunidade tomarense, considerou o responsável. “Somos fieis depositários das coroas e pendão da festa que sai da Misericórdia em cortejo”.
2018 é um ano especialmente importante para o património histórico da Misericórdia de Tomar. Viu aprovada a sua candidatura à segunda fase do Fundo Rainha Dona Leonor, na categoria de património, e faz planos para criar um núcleo museológico num espaço adjacente à igreja. “Estamos num processo de evolução, graças ao FRDL, para termos a igreja recuperada e o futuro museu onde estas peças estarão visíveis. No fundo, esta exposição foi um ensaio para a visibilidade que queremos dar à igreja e restante património”, referiu o vice-provedor.
As obras de recuperação do edifício, danificado pela chuva e humidade, incluem o restauro do telhado, paredes e instalação de nova iluminação e vão permitir devolver o templo ao culto e visitas da comunidade. Depois de renovada, a igreja vai ter condições para acolher um núcleo museológico que faça jus ao “espólio único” (que inclui uma obra do pintor régio Gregório Lopes) e legado secular da instituição fundada em 1507.
A “devolução” da igreja à cidade, enquanto património vivo da comunidade, é consequência de uma estratégia de valorização do espólio cultural iniciada anos antes pela mesa administrativa e antecessores. Fruto de um trabalho em rede com entidades locais como o Instituto Politécnico de Tomar (IPT) foi possível inclusivamente restaurar o órgão de tubos da Igreja Nossa Senhora da Graça, originário do século XVIII, e apurar que esse instrumento pertenceu ao Convento de Cristo, antes de ser doado à Santa Casa de Tomar no século XIX.
Essa intervenção foi conduzida pelo Laboratório de Conservação e Restauro de Madeiras, ao nível do restauro da caixa (em madeira dourada e policromada), e pelo organeiro Dinarte Machado, responsável pelo mecanismo do instrumento (tubos, sistema mecânico e foles).
A inauguração da exposição “Património Cultural da Misericórdia de Tomar”, no salão nobre da instituição, contou com a presença de irmãos, mesários, representantes de entidades e poderes locais, entre outras individualidades, e foi seguida da assinatura de um protocolo com a Casa do Concelho de Tomar.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas