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- Torres Novas | Cultura deve ocupar lugar central na discussão política
Com vasta experiência em cultura e outras áreas, Guilherme d’Oliveira Martins é atualmente presidente do grande conselho/conselho de artes do Centro Nacional de Cultura e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.
Para o responsável, que já foi ministro e presidente do Tribunal de Contas, na atual sociedade, a atenção e o cuidado devem ser “o instrumento contra a indiferença”.
"Em tempos de incerteza, de tensão e de crise é muitas vezes difícil entender a importância da noção de comunidade. O Estado social claudica, mas os direitos socais têm que ser salvaguardados, através de um contrato social renovado", afirmou.
Por isso, Oliveira Martins considera que “ter memória é respeitarmo-nos” e, nesse sentido, a efeméride assinalada em Torres Novas reforça “o sentimento de identidade e pertença desta comunidade” entendida como uma “memória viva”, seja ela relativa a monumentos, acervos, sítios e tradições ou constituída por “conhecimentos ou expressões da criatividade humana”.
Na sua intervenção, Oliveira Martins deixou ainda um alerta: perante tantas incertezas e ameaças a um projeto europeu para a paz, “as políticas públicas devem assentar no cuidado da herança e da memória”, defendeu.
Neste sentido, o património cultural, que “não se refere apenas ao passado, mas à permanência de valores comuns, à salvaguarda das diferenças e ao respeito do que é próprio, do que se refere aos outros e do que é herança comum”, pode ser decisivo. Por isso, defendeu, a cultura deve ocupar um lugar central na discussão política de hoje, por obrigar a um exercício constante de “compreensão sobre os direitos e deveres, sobre as diferenças”.
Falando em Torres Novas sobre “Património Cultural – Onde o passado encontra o futuro”, o antigo presidente do Tribunal de Contas destacou o trabalho que tem vindo a ser realizado pela Santa Casa de Torres Novas para salvaguardar o seu património, mas também colocá-lo à fruição pública.
Na sessão solene, António José Gouveia da Luz, provedor, apresentou aquele que, nas suas palavras, representa “o maior investimento do século” da Misericórdia de Torres Novas, que é o da renovação da Casa de Repouso Visconde S. Gião.
Trata-se, segundo o responsável, de um investimento na ordem dos três milhões de euros, que visa modernizar o lar e oferecer condições de comodidade que o antigo edifício já não permite.
“Tenho consciência que iremos encontrar muitas dificuldades, mas tenho plena convicção que, com a colaboração de todos elementos que compõem os órgãos sociais e da irmandade, conseguiremos levar a cabo mais esta missão”, disse.
Declarando a missão social da Santa Casa nas catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais, o provedor considerou que o compromisso de 1534 se mantém vivo e é uma “bússola para fazer o bem”, no passado como no presente e no futuro.
Com uma história marcada pelos diversos ambientes económicos, políticos e sociais que marcaram a região, a instituição “sempre soube dar respostas inovadoras aos novos problemas”, declarou, concluindo: “agora, a Misericórdia de Torres Novas prepara-se, mais uma vez, para se reinventar a si mesma e continuar a cumprir a sua missão”.
A Misericórdia de Torres Novas foi fundada em 1534 a partir do património (hospital, terras, imóveis, rendas e foros) das antigas confrarias medievais da vila de Torres Novas.
É a mais antiga instituição particular do concelho e dá apoio, no conjunto de todas as valências, a cerca de 400 pessoas, contando para o efeito com mais de 100 colaboradores. Na área do património cultural, é detentora da mais importante rede de imóveis patrimoniais do concelho de Torres Novas: igreja da Misericórdia, igreja do Carmo, capela de Santo António, capela de Nossa Senhora de Lourdes (Outeiro Grande), capela do Vale e capela do Senhor Jesus dos Lavradores, anexa à igreja de Sant’Iago.
Voz das Misericórdias, Filipe Mendes