Naquela noite do dia 15 de abril, a imponente Procissão do Enterro do Senhor levou pelas ruas da vila transmontana o esquife do Senhor morto. A matraca assinalava o aproximar da procissão, que era vista por centenas de pessoas nas principais artérias de Vila Flor, num semblante de luto e silêncio, naquela que, para muitos, é a mais comovente das procissões no programa da Semana Santa.
Dezenas de homens e mulheres da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor acompanhavam a procissão, vestindo os tabardos negros e levando as bandeiras e as velas, ao som das marchas fúnebres entoadas pela banda filarmónica.
A Semana Santa esteve a cargo da Misericórdia de Vila Flor, juntamente com a Paróquia de São Bartolomeu e a autarquia local.
Para muitos, aquele é o ponto alto do ano para a Santa Casa de Vila Flor, mas, este ano, “teve um sentido diferente para a comunidade”. Quem o diz é Quintino Gonçalves, provedor, que definiu esta Semana Santa de 2022 como uma “edição especial”, desde a Bênção de Ramos até às Confissões, a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, a Procissão do Enterro do Senhor, a Bênção do Lume Novo e do Círio Pascal, terminando com a Procissão da Ressurreição.
“Após dois anos de interrupção devido à pandemia de Covid-19, tenho notado que, ao longo de toda a Semana Santa, as pessoas sentem ainda mais estes dias. Todos tinham saudades”, confessou Quintino Gonçalves.
Em Vila Flor, as comemorações na época da Páscoa foram desde sempre “muito vividas pela comunidade”, o que traz à Misericórdia uma responsabilidade acrescida no que à organização diz respeito. “Sempre tivemos uma Semana Santa muito participativa, não só das pessoas do concelho, como de todo o distrito, mas também de muitos espanhóis, dada a proximidade com a fronteira. Além disso, a comunidade emigrante aproveita estes dias para marcar presença na terra natal e não descura as celebrações da Páscoa”, adiantou o provedor.
Foi o caso do pequeno Miguel Sobral, que aguardava ansiosamente a chegada da procissão junto à Praça da República, já que era um dos pontos de paragem da marcha.
A tenra idade de Miguel não lhe permitia compreender o simbolismo daquelas celebrações, no entanto não escondia a estupefação diante dos “homens vestidos de negro com as velas” e o olhar dos fiéis perante o desfile que se seguia.
“Nunca tinha assistido a esta procissão. Vim passar a Páscoa à aldeia com os meus avós e só este ano é que me trouxeram à vila para assistir a esta festa. É muito bonito e com a música da banda filarmónica parece que estamos a entrar num filme”, disse o espectador de oito anos.
Após a paragem num dos pontos principais de Vila Flor, a procissão seguiu com as matracas a fazerem o típico ruge-ruge e os fogaréus que seguiam com a habitual chama. Acompanharam a procissão as autoridades civis e militares, como também autarcas e representantes de associações locais.
Entre as centenas de pessoas que se reuniram do início ao fim, muitos estavam com saudades de voltar a ver “o ambiente emotivo” de uma das procissões mais importantes da localidade, que terminou onde começou: na Igreja da Misericórdia de Vila Flor.
Para além dos eventos religiosos que a Santa Casa organizou, decorreu também no dia 11 de abril a conferência “Uma Proximidade que se torna cuidado”, no auditório da Misericórdia. Já no dia 12 realizou-se ainda o concerto com o Duo Lírico, Carlos Guilherme e Teresa Tapadas, na Igreja Matriz de Vila Flor, pelas 21h, tendo sido um evento com enorme participação da comunidade local e da irmandade.
Voz das Misericórdias, Daniel Parente