O ponto de partida para a exposição saiu do Museu Nacional Grão Vasco (MNGV), em Viseu, que possui, segundo a sua diretora, “a maior coleção de ícones de arte russa em Portugal” e, juntamente com a embaixatriz Irina Marcelo Curto e o Instituto de Arte Russa em Lisboa, foi possível organizar esta exposição.
A mostra, patente até 29 de março de 2020 na sala de exposições temporárias do MNGV e de entrada livre, apresenta ícones da igreja ortodoxa, uma das mais expressivas na Rússia, e da igreja católica, a maior em Portugal, e Odete Paiva defende que “são mais semelhantes do que se possa imaginar”.
Segundo a diretora, a exposição propõe um “espírito de continuidade entre aquilo que são as evocações dentro de um mesmo cristianismo, mas com matrizes depois um pouco distintas como é a ortodoxia e a igreja católica”.
É entre essas semelhanças que surge a ligação entre os ícones russos e os das Santas Casas, que, segundo Odete Paiva, “podiam ser de qualquer parte do país, mas se a exposição está em Viseu, são as da região que cá estão representadas”. No MNGV estão patentes peças das Misericórdias de Viseu, Santar e São Pedro do Sul.
Numa visita guiada ao VM, a diretora do MNGV começou por realçar o nome da exposição – Sob o Manto de Nossa Senhora - por considerar ser “uma escolha muito feliz”. Além do manto físico, representado na iconografia, “é também um manto de proteção não só para os mais necessitados do ponto de vista de coisas materiais, mas também para a necessidade de uma certa espiritualidade”, explicou a responsável.
Neste sentido, Odete Paiva percebeu que “havia uma ligação clara com a virgem da Misericórdia” porque “dentro da igreja russa e dos ícones que estão expostos há um deles em que a Nossa Senhora está sobre um crescente lunar”.
Por isso, “há todo um diálogo” entre os ícones de arte russa e os das Misericórdias e, ao visitar a exposição, começa-se por ver os ícones com referências à vida terrena de Nossa Senhora e, depois, imagens do Antigo Testamento em que era vista como a “Virgem da Abençoada Fonte da Vida”.
Podem ver-se “verdadeiras obras de arte”, como exprimiu Odete Paiva, de um “rendilhado a fazer lembrar a filigrana portuguesa” nos ícones portáteis, pendentes e medalhões, para chegar à evocação de Nossa Senhora da Misericórdia com a mostra das bandeiras e imagens das Santas Casas de Santar, Viseu e São Pedro do Sul e depois terminar a mostra com imagens da mãe de Deus na liturgia e atos sagrados da coleção da arte russa.
A diretora do MNGV confidenciou ainda que gostaria de ver a exposição em itinerância, “precisamente porque ela tem esta mensagem um pouco mais ecuménica da relação das religiões e daquilo que une” as igrejas e as pessoas de fé. A primeira mostra foi em Lisboa, no Museu de São Roque da Santa Casa de Lisboa, e segundo Odete Paiva, a relação com outras Santas Casas do país “poderá ser facilmente trabalhada”. Há também um conjunto de materiais que ficou produzido como tabelas, catálogos, desdobráveis, o que, no entender da responsável, facilita esta mobilidade.
Com a possível itinerância da arte russa, a mostra poderá não ser exatamente toda igual, uma vez que no MNGV os ícones das Misericórdias representados na exposição são da região de Viseu e, partindo para outros locais, “a ideia é procurar ícones das Misericórdias dessas regiões para manter o diálogo” e dar a conhecer os ícones de outras localidades.
“Certamente, essa será sempre a forma mais interessante de construir a exposição. Para mim esse é o caminho, quando a coleção sair do Grão Vasco, e saírem os ícones, eles estarão sempre em diálogo com as Misericórdias do sítio para onde forem”, defendeu.
Voz das Misericórdias, Isabel Marques Nogueira