O átrio do Centro de Apoio a Deficientes Profundos João Paulo II, equipamento da UMP em Fátima, foi, no dia 14 de junho, transformado em passerelle. Pela passadeira vermelha, desfilam colaboradoras da instituição, que exibiram sacos feitos por utentes que frequentam a sala de atividades ocupacionais do centro.
Momentos antes do início do desfile, sentia-se um nervoso miudinho nos bastidores. Davam-se os últimos retoques no cabelo e na maquilhagem e as manequins faziam um derradeiro ensaio dos passos com que se iriam apresentar na passerelle.
A abrir o desfile, houve uma demonstração de danças latinas, feita por uma colaboradora da instituição, à qual se juntou, por breves momentos, um utente, que, em cadeira de rodas, fez uma interpretação da música que ia passando.
Subiram, depois, à passadeira vermelha, as manequins. Uma a uma, exibiram os sacos em tirela, criados pelas mãos dos utentes, os “artesãos” que tornam possível o desfile, com a ajuda de voluntárias e auxiliares, que fazem os acabamentos.
Na parte final do desfile, alguns dos autores dos trabalhos passaram também pela passerelle, para receberem o devido reconhecimento, traduzido em aplausos. Viveram-se, na plateia e na passadeira vermelha, momentos de emoção, quando uma das utentes, que sofre de uma doença degenerativa, deixou a cadeira de rodas e desfilou ao longo da passerelle, com o apoio de uma técnica, exibindo uma bolsa de mão feita na sala de atividades. O sorriso nunca lhe sai do rosto. Não fala, mas todos percebem o que quer dizer: “consegui”.
Engrácia Marques, diretora técnica da instituição, explica que a iniciativa pretende, sobretudo, “valorizar” o trabalho desenvolvido pelos utentes. “Gostam de o fazer, mas também de serem reconhecidos por isso. Quem não gosta? Foi isso que nos levou a organizar este evento, ao qual demos a pompa e a circunstância que eles merecem”, reforça a técnica.
“É uma forma de divulgar aquilo que eles gostam de fazer”, acrescenta Paula Gaspar, auxiliar na escola de educação especial Os Moinhos, que foi uma das manequins de serviço. Antes de entrar na passerelle confessava que sentia um “friozinho na barriga”, mas que, “por eles, os nossos meninos, tudo vale a pena”.
A assistir ao desfile estiveram familiares dos utentes, colaboradores e voluntários na instituição e personalidades convidadas, como D. Serafim Ferreira e Silva, bispo emérito de Leiria-Fátima, e o presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque.
Na primeira fila da plateia encontrava-se Águeda Ferraz, de 89 anos, que, durante quase duas décadas, fez voluntariado no Centro João Paulo II. Foi, aliás, uma das mentoras da sala de atividades ocupacionais e da produção de sacos em tirela. “Queríamos ocupá-los com qualquer coisa de útil. Começámos com dois ou três utentes, mas o grupo foi engrossando. Os sacos tinham muita saída”, recorda.
A antiga voluntária conta que o primeiro dinheiro angariado com a venda dos sacos serviu para comprar uma cortina para o auditório. “O mais importante é conseguir que eles convivam e se sintam úteis, mas a comercialização das peças permite juntar o útil ao agradável”, frisa.
A realização do desfile insere-se nas comemorações do 30º aniversário da instituição, que será assinalado ao longo do ano. Joaquim Guardado, administrador-delegado, adianta que, entre as atividades previstas, está a realização de um jantar comemorativo com espetáculo. “São 30 anos de uma experiência riquíssima, de que me orgulho muito. Esta é uma casa muito especial. Aqui, é o fim de linha. Recebemos aqueles que, pela gravidade das suas patologias, não podem estar noutras instituições.”
Criado em 1989 pela UMP, o Centro de Apoio a Deficientes Profundos João Paulo II é composto pelas valências de lar residencial, que acolhe 192 utentes, e pela escola de educação especial Os Moinhos, que integra 20 alunos que residem também na instituição.
A instituição tem cerca de 200 funcionários, onde se inclui uma vasta e diversificada equipa técnica (enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, médicos, educadora e animadora sociais, terapeutas da fala e ocupacionais, fisioterapeuta, auxiliar de fisioterapia, técnicas de educação especial, professor de educação física, etc). Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva