Dando as boas-vindas à “vila presépio”, o provedor e anfitrião do evento considerou urgente o debate sobre esta matéria, “que entra nas casas de muitas famílias e com que se confrontam muitas instituições”. Lembrou ainda que “para encontrar as melhores soluções precisamos de conhecimento” e desejou um “dia de aprendizagem mútua” a todos os participantes.
Enfatizando a necessidade de compreender o fenómeno e intervir melhor nesta área, o presidente da UMP, Manuel de Lemos, considerou que “o Estado português não está muito sensível aos problemas da saúde mental e que este é um
caminho que estamos a percorrer, assim como se fez com as demências, que hoje tem como coordenador da comissão executiva [do Plano ‘Nacional de Saúde para as Demências] um provedor, Manuel Caldas de Almeida”.
Por sua vez, o presidente da autarquia, Pedro Folgado, chamou a atenção para o número crescente de trabalhadores que sofrem de burnout e alertou que “falar de saúde mental é também falar da ansiedade e stress com que lidamos a nível profissional e pessoal. Vivemos a uma velocidade muito acelerada e não sei se estamos preparados para viver assim”. Números recentes indicam que mais de 70% dos trabalhadores tem sintomas de burnout, segundo um estudo do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis.
Ao longo do dia, vários oradores sublinharam a importância de promover desde cedo a literacia emocional, num contexto escolar e familiar. “O nosso grande propósito é pensar na intervenção antes da saúde mental estar afetada. É importante aumentar a consciencialização ao longo do ciclo de vida”, referiu a enfermeira Amália Costa. Alertando para a prevalência de transtornos de ansiedade, entre alunos e professores, defendeu que “cada criança beneficia de estar integrada em lugaresde afetos, com relações seguras em casa e na comunidade”.
Na primeira infância, a pedopsiquiatra Frederica Viana defendeu a importância de brincar, como a “forma mais segura de experimentar emoções e situações, mesmo que sejam negativas”, e a psicóloga Filipa Costa Santos corroborou essa ideia acrescentando que “o contacto relacional com o outro é fundamental e não pode ser substituído por um ecrã”.
Na adolescência, estima-se que cerca de 14% dos jovens sofrem de perturbações mentais, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (2022), mas a maioria não é detetada. Para melhorar o bem-estar dos jovens, a psicóloga Ana Prioste sugere “reduzir o estigma associado à doença mental, mostrar compaixão e encorajar a falar de emoções”. Além disso, destaca o “impacto de longo prazo de programas de promoção da saúde em contexto escolar”. Nesta fase de mudanças, Nuno Pinto Martins, fundador da Academia Educar pela Positiva, recomenda “ser coerente, validar emoções, escutar e passar tempo de qualidade com eles”.
Na idade adulta, falou-se sobre a demência de início precoce (idade inferior a 65 anos), “um diagnóstico que chega cada vez mais cedo e que já representa 9% dos casos”, referiu a psicóloga Rita Santos, da Alzheimer Portugal. Nestas situações, é frequente atrasar o diagnóstico e desvalorizar sintomas que podem envolver, numa primeira fase, “alterações de comportamento, humor, personalidade e movimento e não tanto alterações de memória”.
Neste contexto, são necessárias respostas na comunidade, adequadas a esta faixa etária, com um modelo de intervenção centrado na pessoa “e não apenas no tipo de demência”, e projetos de apoio aos cuidadores, como o ‘Café Memória’ e a ‘Linha de Apoio na Demência’.
Na reta final, Raquel Raimundo, da Ordem dos Psicólogos, alertou para um “equilíbrio cada vez mais difícil” entre a vida pessoal e profissional, “com uma grande sobrecarga de trabalho e pressão social para sermos produtivos o tempo inteiro”, recomendando um sono reparador, exercício físico, relações seguras e ajuda especializada para melhorar níveis de bem-estar.
Por ocasião do evento, o presidente da UMP teve a oportunidade de visitar o lar de idosos após obras de reabilitação.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas