A Misericórdia de Arcos promoveu, no âmbito da sua Semana Aberta, o colóquio “O social e a saúde: que caminhos?”. O debate ficou marcado pela urgente necessidade de convergência entre os serviços sociais e de saúde. Foi a 6 de junho.
O colóquio foi moderado pelo provedor anfitrião, Francisco Rodrigues de Araújo, e contou com a presença de Manuel de Lemos e Manuel Caldas de Almeida, da União das Misericórdias Portuguesas, e Maria Amélia Ferreira, provedora da Misericórdia de Marco de Canaveses.
Num país como Portugal, onde 23% da população total é idosa, faz todo o sentido que haja uma confluência cada vez maior entre serviços sociais e de saúde e neste âmbito as Misericórdias têm tido um papel fundamental. Para Maria Amélia Ferreira, as Santas Casas têm “a noção daquilo que as populações precisam” e podem por isso “traçar algumas orientações relativamente ao trabalho que se vai desenvolver”.
“A nossa sociedade está, maioritariamente, constituída por mulheres viúvas, doentes, velhas e pobres. E isto é um desafio grande porque essas mulheres também são cuidadoras de velhos. Toda esta problemáticas cria-nos um cenário muito relevante, mas se há instituições que sabem dar resposta são as Misericórdias e as instituições de economia social”, disse.
Neste quadro, defendeu Maria Amélia Ferreira, é cada vez mais necessária a humanização das estruturas de saúde e, neste quadro, as Misericórdias terão um papel essencial “pela relação de proximidade que têm com as populações”.
Esta humanização da saúde, explicou, só pode ocorrer mediante o caminho da formação. “É necessário criar uma opção formativa de altíssima qualidade que nos permita não só obter credibilidade, mas também gerar mecanismos educativos que também são importantes para a atratividade das populações”. As Misericórdias já têm trabalho feito, referiu Maria Amélia Ferreira, destacando o trabalho realizado na área das demências e o facto de duas Misericórdias, em parceria com a Universidade do Porto, terem criado o primeiro curso de medicina social.
Ideia semelhante foi defendida por Manuel Caldas de Almeida, para quem a formação urgente. “É cada vez mais difícil separar as necessidades sociais das necessidades de saúde, é cada vez mais difícil fazer distinção entre as pessoas que estão nos lares e as pessoas que estão nas unidades de longa duração”.
Nesse sentido, formação e qualidade são aspetos incontornáveis. “Há 15 anos era legítimo dizer que as Misericórdias fazíamos «benzinho», éramos os bonzinhos. Hoje em dia ninguém tem complacência com fazer «benzinho». Nós temos de fazer bem e comprovadamente bem. Temos de ter sistemas de qualidade”.
As Misericórdias conhecem as populações e isto é “uma arma fundamental para a sociedade ultrapassar os seus desafios”. Mas, continuou, “termos êxito implica pensarmos na nossa realidade e estarmos todos juntos”, asseverou Caldas de Almeida.
Por sua vez, Manuel de Lemos defendeu que o panorama social de Portugal mudou e é, por isso, plausível falar de uma crise na segurança social. “Até ao 25 de abril era muito clara a separação entre aquilo que era a assistência social e a saúde. Não existia o problema dos idosos. Hoje, 23% da nossa população é idosa. As pessoas depois da reforma ainda vivem um terço das suas vidas. É preciso ponderar isso”, evidenciou.
A propósito ainda do 25 de abril, o presidente da UMP recordou que “as Misericórdias ficaram sem os hospitais”, tendo orientado o seu trabalho para cuidar de idosos e crianças. “Com o aparecimento das IPSS, que foram ocupando as comunidades e cingindo-se às crianças e jovens, as Misericórdias têm ficado cada vez mais com a área do envelhecimento”. Por isso, a necessidade de convergência entre saúde e segurança social, continuou, foi sendo um facto e as Misericórdias foram capazes de se adaptar mais depressa. Muito mais depressa do que o Estado.
“O nosso objetivo é servir as pessoas, perceber o que elas precisam” e nesse sentido a formação é determinante para “sermos um parceiro credível para o Estado, mas sobretudo, para a população”.
Sobre este debate, o provedor da Misericórdia de Arcos de Valdevez afirmou que “em tempos de mudança é bom que tenhamos a capacidade de criar rede, partilhar recursos, definir estratégias e isso não pode ser de maneira isolada”. Para Francisco Rodrigues de Araújo, “é necessária a cumplicidade entre instituições para sermos capazes de dar as mais acertadas e adequadas respostas”. Voz das Misericórdias, Vanessa Reitor