A Misericórdia de Cabeção, no concelho de Mora, é a única do país que tem apenas serviço de ambulâncias. A instituição existe desde o século XVI e teve a função de hospital até meados do século XX.
Rui Lopes Aleixo, provedor, conta que foi no século XIX “que a Misericórdia perdeu o seu património e chegou ao século XX sustentada pelas esmolas de pessoas da terra. Quando essas esmolas começaram a desaparecer, a Misericórdia ficou praticamente sem atividade”.
Mais tarde, quando foi retomada a atividade, “pensou-se que o que fazia mais falta era o transporte de doentes para hospitais, uma vez que não havia um médico na terra”.
Atualmente, este serviço de ambulâncias serve não só as pessoas da terra, como também de outras localidades, e o serviço é dividido entre as ambulâncias da Misericórdia de Cabeção e os Bombeiros.
Segundo Rui Lopes Aleixo, até abril do ano corrente esta valência era “extremamente deficitária”, causando um prejuízo na Misericórdia, que era “em parte sustentado pelas rendas do bairro social João Lopes Aleixo, propriedade da instituição”, uma doação feita nos anos de 1960 e destinada a fixar em Cabeção casais jovens e trabalhadores. Porém, passados oitenta anos, a maioria dos moradores paga uma renda de dez euros e são os cerca de nove contratos de renda atualizada que permitem sustentar as despesas da Misericórdia.
Fernando Cunha Teixeira, tesoureiro, explicou ao VM que a operação das ambulâncias é coordenada pelos hospitais de Évora e de Portalegre, mas que, na sua maioria, os serviços eram entregues aos Bombeiros, ficando a instituição com “pouca capacidade para continuar a ter ambulâncias”. O tesoureiro esclarece: “pagar salários e a reparação das ambulâncias é demasiado caro para nós”. No total são três ambulâncias de transporte não urgente e três condutores.
Nos momentos mais críticos de confinamento do período pandémico que se vive, o serviço parou. “Os veículos não estavam autorizados a fazer assistência de emergência, não podendo transportar doentes durante o confinamento. Se houvesse doentes em Cabeção, vinham ambulâncias de outros locais. Durante dois meses de 2020 parámos completamente”.
Atualmente o serviço de ambulâncias da Misericórdia de Cabeção já se encontra a funcionar em pleno. Desde abril que os serviços começaram a ser mais requisitados, não havendo agora momentos de paragem. Segundo o provedor, houve uma alteração na forma de gestão do serviço e agora todos os dias as ambulâncias têm saídas, mais do que uma vez por dia, e servem, sobretudo, Évora e Portalegre, tendo ocasionalmente, alguns serviços para o IPO em Lisboa.
Voz das Misericórdias, Joana Mouquinho Penderlico