O envelhecimento da população acarreta um aumento de doenças crónicas e esta tendência vai obrigar a uma reformulação do sistema de saúde. A conclusão surge no âmbito do painel dedicado ao tema “Apoio domiciliário medicalizado: um paradigma de modernidade” que contou com Lia Fernandes, professora associada da Universidade do Porto (UP), e Helena Bárrios, adjunta da direção clínica do Hospital do Mar. A moderação ficou a cargo do provedor da Santa Casa de Lisboa, Edmundo Martinho.
Os dados demográficos e clínicos não deixam margem para dúvidas. Segundo Lia Fernandes, o número de pessoas com mais de 80 anos vai aumentar, até 2050, 170% na Europa. Associado a este número está a taxa de doenças crónicas que de acordo com a OMS deve registar até 2049 um acréscimo de 300%.
Para a professora associada da UP, os números vão obrigar a uma intervenção dirigida aos cuidados, mais do que à cura de doenças. Para o efeito, os hospitais deverão “sair das suas paredes, para se dirigirem às comunidades”. O trabalho integrado com cuidados primários, cuidados continuados e equipas de apoio social será, neste sentido, determinante para que as necessidades (clínicas e sociais) dos doentes e suas famílias sejam colmatadas.
Além de humanizar os cuidados e melhorar indicadores clínicos, continuou Lia Fernandes, esta alteração de paradigma também tem impacto positivo nas contas. Dando como exemplo o serviço de hospitalização domiciliária do Hospital Garcia de Orta, a professora afirmou que a taxa de reinternamento é de 9% e a de mortalidade de 1,3%. Sobre a despesa, o montante gasto por doente em hospitalização domiciliária representa menos de metade do custo de internamento hospitalar tradicional.
Este trabalho de reformulação dos cuidados de saúde deve, de acordo com Helena Bárrios, ser planeado e ponderado em função de custos e complexidade, privilegiando, sempre que possível, a vontade do doente.
“É preciso tirar um curso para ser doente em Portugal”, disse a responsável do Hospital do Mar, destacando a atual complexidade do sistema de saúde e recordando as principais aspirações de quem sofre de doenças crónicas: “controlo sintomático, reversão de intercorrências e apoio na dependência”.
Para Helena Bárrios, “o apoio domiciliário na dependência continuará a ser predominante”, mas importa prever necessidades com base em dois critérios: evolução demográfica e prevalência de doença na comunidade. Importa também resolver o que considera ser um dos principais desafios do atual sistema: a excessiva fragmentação de cuidados. Sobre este aspeto, Edmundo Martinho, que moderava a sessão, afirmou que “talvez seja tempo de deixarmos de adjetivar o apoio domiciliário”.
Voz das Misericórdias, Bethania Pagin