As obras agora finalizadas permitiram criar 40 camas de cuidados continuados, duplicando a capacidade atual da Misericórdia nesta resposta, e 20 de paliativos, as primeiras do concelho de Leiria com comparticipação do Estado. As camas ficarão sob responsabilidade da GEHC Leiria, um consórcio que junta a Misericórdia, o grupo BBT e a empresa Bimped/Hestia.
Reconhecendo que se trata de "um grande desafio" e de uma decisão "arrojada", o provedor Carlos Poço está convicto de que a opção foi a acertada. "A saúde privada está numa acesa competição por quota de mercado e disputa de profissionais de saúde. Não é nessa competição que a Misericórdia quer estar. Quer estar, sim, na assistência às pessoas, especialmente, aos mais vulneráveis", afirmou o dirigente, durante a cerimónia de inauguração das obras.
Na ocasião, o provedor frisou que, com a proliferação de unidades privadas de saúde, como está a acontecer em Leiria, "as pessoas não precisam de mais oferta" nesta área, mas sim de respostas ao nível dos cuidados paliativos e continuados, onde a região tem carências.
No discurso que proferiu, Carlos Poço deixou, no entanto, um lamento pelo facto de a unidade não poder entrar ainda em funcionamento, por falta de despachos ministeriais, apesar de a comparticipação estar garantida pelo contrato no âmbito do PRR. "A sociedade ficará, de novo, a aguardar pela máquina do Estado", disse, tecendo também duras críticas ao modelo de financiamento da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), que está "desatualizado" e é "insensível à complexidade crescente dos utentes e à intensidade dos cuidados que exigem".
"Continuamos a operar num sistema em que o Estado não paga a totalidade dos custos dos serviços que prestamos. Por vezes, paga menos de metade e com atrasos significativos", denunciou Carlos Poço, alertando para as consequências do "subfinanciamento crónico" da RNCCI, que tem conduzido ao encerramento de unidades, redução de camas, "tempos de espera intoleráveis e instituições que vivem com a angústia de saber como será o próximo mês".
Perante esta realidade, que classificou de "insustentável", o provedor apelou à revisão da tabela de preços e defendeu a necessidade de "medir impactos" dos serviços prestados e de "recompensar" a qualidade e "quem faz bem e diferente"
A finalizar a intervenção, Carlos Poço agradeceu ao presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos, presente na sessão, por ser "um lutador por esta causa". No que à sua instituição diz respeito, deixou uma garantia: "A Santa Casa da Misericórdia de Leiria reafirma o seu compromisso de continuar a resistir, a cuidar e a inovar".
O bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, também esteve presente na cerimónia de inauguração deste novo equipamento de saúde.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva