Uma intervenção estruturada para controlo e prevenção de infeção pode contribuir para evitar doenças, reduzir custos e aumentar a eficiência clínica das unidades de cuidados continuados

Mais de 40 mil pessoas podem morrer em Portugal na sequência de infeções por bactérias resistentes a antibióticos, até 2050, segundo um estudo divulgado pela OCDE no ano passado. Uma das causas deste problema de saúde pública é o consumo inadequado de antibióticos que, nalguns países, pode ascender a 50% dos casos, aponta a Organização Mundial da Saúde. Atenta a este problema, a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) dispõe, desde 2008, de um serviço especializado de consultadoria e formação que presta apoio técnico às Misericórdias, com atividade na área da saúde, sete dias por semana, 24 horas por dia (cci.gms@ump.pt).

Vocacionada para as instituições com unidades de cuidados continuados (UCC), a Comissão de Controlo de Infeção (CCI) da UMP apoia o desenvolvimento de programas locais de prevenção e controlo de infeção, através do esclarecimento de normas e legislação atualizada e da divulgação de boas práticas. Para o efeito, disponibiliza (através da área reservada do site da UMP) um manual com recomendações para quem está no terreno. O objetivo de todo este trabalho é proteger doentes, familiares e profissionais.

As mais-valias de uma intervenção estruturada nesta área são resumidas por Manuel Caldas de Almeida, vogal da UMP responsável pela área do envelhecimento, em dois pontos fulcrais: “prevenção de doenças, sofrimento e morte”, do lado dos beneficiários, redução de custos e aumento da eficiência clínica, do lado dos prestadores de cuidados.

No manual de boas práticas da UMP incluem-se as precauções básicas de controlo de infeção consideradas “fulcrais” pela enfermeira responsável pelo apoio prestado às Misericórdias. Segundo Paula Nobre, “estas medidas são fundamentais e são para todos. Não vale a pena ter doentes em isolamento se depois as pessoas não lavam as mãos e não descontaminam material de uso partilhado”, explica.

Se algumas medidas são de fácil concretização, outras, pelo contrário, implicam maior investimento (isolamento, por exemplo), mas para grande parte das UCC, a maior dificuldade decorre do desfasamento entre as normas e a capacidade (física e humana) das unidades. “Nós precisamos de evitar um problema grave com o mínimo de custos possíveis e não de estar preocupados com normas impossíveis de aplicar”, critica Caldas de Almeida, em entrevista ao VM (ver aqui).

A nível nacional, a estratégia é coordenada pelo Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), da Direção Geral de Saúde, que se ramifica em grupos regionais e locais (nomeados pelas entidades prestadoras de cuidados de saúde).

Criado em 2007, o PPCIRA está ainda “muito focado nos hospitais de agudos”, o que, segundo a enfermeira Paula Nobre, dificulta a operacionalização nas UCC. “As normas têm que procurar dar resposta às necessidades e particularidades dos cuidados continuados para que as unidades tenham capacidade de recursos humanos, logísticos e financeiros para conseguirem cumprir as normas”.

O controlo de infeção não é um problema exclusivo das unidades de saúde e hospitais e deve ser avaliado de forma integrada, nos diferentes níveis de cuidados. O vogal do Secretariado Nacional da UMP, Caldas de Almeida, tem alertado para a questão, em vários fóruns de debate com as Misericórdias, frisando que neste momento o “risco de infeção é semelhante nos lares de idosos” porque se trata de um público fragilizado e com “perdas de imunidade”.

Sem criar “alarmismo”, os membros do grupo de coordenação central do PPCIRA da UMP pretendem sensibilizar as Misericórdias para a importância de um trabalho coordenado nesta área e consensualizar estratégias de implementação de um plano de ação global de prevenção e controlo de infeção e de resistências aos antimicrobianos. Em suma, ajustar o conhecimento científico e normas em vigor à realidade e capacidade de implementação das unidades das Misericórdias, uniformizando e otimizando os recursos, muitas vezes escassos, das instituições.

Recorde-se que a Comissão de Controlo de Infeção da União das Misericórdias Portuguesas é constituída por Manuel Caldas de Almeida (presidente), Catarina Cerqueira (coordenadora) e Paula Nobre (enfermeira) que está disponível de forma permanente (sete dias por semana, 24 horas por dia) para as Misericórdias, via telefone (925 770 440) ou email (cci.gms@ump.pt).

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Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas / Ilustração por Paulo Buchinho