Misericórdia de Vila Verde organizou no passado dia 7 de junho o seu “I Encontro de Controlo de Infeção: Qual o caminho?”

A Misericórdia de Vila Verde organizou no dia 7 de junho o seu “I Encontro de Controlo de Infeção: Qual o caminho?”. O evento reuniu quase duzentos profissionais e estudantes ligados direta ou indiretamente à área da saúde. A partilha de conhecimento, experiências e dificuldades na implementação de programas de controlo de infeção e resistência aos microbianos foi um dos principais objetivos do evento.

Na comissão de honra do encontro figuraram o Presidente da República, que enviou uma mensagem na impossibilidade da sua presença, a União das Misericórdias Portuguesas (UMP), representada por Manuel Caldas de Almeida, a Administração Regional de Saúde (ARS) Norte e a Direção-Geral de Saúde, ambas representadas por Paula Batista, coordenadora do grupo de coordenação regional do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) desde 2013.

“Todos trememos quando lembramos do que aconteceu há cerca de cinco anos em Vila Franca de Xira”, disse Bento Morais, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde a propósito do surto de legionella que teve como epicentro o hospital local, frisando a suma importância de um debate que informe e promova o combate às infeções.

A ideia da criação deste encontro nasceu, pois, de forma a proporcionar um debate dos procedimentos científicos voltado para hospitais sociais e unidades de cuidados continuados, conforme relatou a enfermeira Rita Risto, uma das responsáveis do encontro.

“Sentimos dificuldades porque os programas estão mais voltados para os hospitais de agudos [de maior porte, do Serviço Nacional de Saúde] e não é fácil adaptar estes procedimentos científicos à nossa realidade”, sublinhou, ressaltando também o facto de que apesar dos hospitais do setor social representarem uma larga fatia do setor, contam, no entanto, com menos recursos materiais, humanos e logísticos do que as infraestruturas de grande porte.

Sobre esta realidade, Manuel Caldas de Almeida explicou à audiência como a UMP tem procurado dotar as Misericórdias mais pequenas de uma ação que as apoie e suporte, especialmente nas unidades de cuidados continuados.

“Temos um grupo de dez farmacêuticas que dão apoio a 86 Misericórdias, desenvolvendo esta área de controlo de infeção. Inicialmente duas enfermeiras criaram um manual de controlo de infeção com instruções básicas para quem está no terreno, realizaram formação nas unidades mais pequenas e formaram uma comissão central que pudesse prover um apoio técnico permanente”, concluiu o responsável pela área da saúde no Secretariado Nacional da UMP.

Este apoio técnico é assegurado sete dias por semana, 24 horas por dia, pela enfermeira Paula Nobre, que também esteve em Vila Verde. Segundo a responsável, a maior dificuldade das Santas Casas é ajustar o PPCIRA, pensado à medida dos hospitais de agudos, à realidade das unidades de cuidados continuados. “Os microrganismos multirresistentes são uma realidade cada vez mais presente nos cuidados continuados e as medidas de prevenção e controlo da infeção cruzada devem ser integradas e adaptadas ao plano de intervenção dos doentes”, disse.

Por isso, uma das ideias defendidas pela UMP é “a criação de um grupo de trabalho que repense o PPCIRA, adaptando-o aos cuidados continuados de modo a promover cuidados de qualidade e em segurança para os utentes, profissionais, visitantes e comunidade em geral”.

Recorde-se que os primeiros esforços para a monitorização e controlo de infeções nas unidades de saúde datam da década de 80, mas, formalmente, só em 2007 foi criado o Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), que está sedeado junto da Direção-Geral da Saúde. Esta estrutura ramifica-se a nível regional nos Gabinetes de Coordenação Regional, sedeados nas ARS e, por fim, são replicadas localmente em cada instituição de saúde com representantes no seu Gabinete de Coordenação Local.

O controlo de infeção nos lares de idosos foi outro ponto para o qual Manuel Caldas de Almeida quis chamar a atenção. “Uma coisa é dar alta a uma pessoa que vai para casa, outra é enviar o doente para um lar, onde vai estar com idosos frágeis e imunodeprimidos. Este é um assunto sobre o qual teremos de refletir muito brevemente, por conta do largo crescimento da população institucionalizada”.

No fim dos trabalhos, o provedor Bento Morais não escondeu haver uma ambição para que este encontro possa vir a realizar-se de forma periódica, idealmente uma vez por ano. Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha