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- Apoio domiciliário | Resposta integrada para assegurar qualidade de vida
A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) apresentou um modelo avançado de serviço de apoio domiciliário (MAiSAD), que prevê uma resposta integrada e permanente aos idosos, com soluções ao nível da saúde, socialização, segurança, comunicação, atividades de vida diária, apoio aos cuidadores informais e uso de tecnologia no domicílio. O modelo avançado de SAD, desenvolvido em parceria com as Universidades de Coimbra, Porto e Lusófona*, foi apresentado em Fátima, a 7 de outubro, num seminário dirigido aos Secretariados Regionais, seguindo-se duas sessões online para os técnicos das Misericórdias, a 21 e 22 de outubro.
Após saudar os participantes e entidades parceiras do projeto, o presidente da UMP, Manuel de Lemos explicou que o modelo “assenta na diversificação de serviços e necessidades das famílias e utentes para garantir uma resposta integrada e construir um novo paradigma de envelhecimento, que assegure mais qualidade de vida, dignidade e cidadania aos nossos idosos”.
O ponto de partida deste trabalho foi conhecer a realidade específica das Misericórdias, através de um inquérito lançado em novembro de 2019 (atualizado em janeiro de 2020). Os dados apurados junto de 312 Misericórdias revelaram uma realidade que já muitos conhecem: idosos dependentes (58% com dependência parcial ou total), falta de retaguarda familiar e necessidade de acompanhamento permanente no domicílio, sem limitações de horário.
A juntar a estes elementos, foi possível apurar outros dados que vieram comprovar a atual desadequação entre os serviços prestados e as necessidades dos utentes, onde se destaca a taxa de ocupação (79%) inferior à capacidade máxima e um elevado número de utentes de SAD que recorre a outros serviços prestados fora da rede das Misericórdias (70%).
Para a equipa a coordenar o estudo, a necessidade de implementar um modelo avançado de SAD decorre dessa desadequação e da urgência em rever as políticas de envelhecimento. A nova geração de idosos, nascida após a segunda guerra mundial, procura serviços diferenciados que vão de encontro às suas necessidades básicas, mas também de lazer, socialização e manutenção da qualidade de vida enquanto recurso ativo na sociedade.
Serviços que nem sempre encontram no universo das Misericórdias, como revela o estudo da UMP. Cerca de 70% dos utentes de SAD recorre a serviços de acompanhamento noturno (55%) e ao final do dia (9%), enfermagem (18%), fisioterapia (9%) e acompanhamento a consultas (9%), assegurados por prestadores públicos e privados.
Estas limitações de horário e oferta disponível, assim como a rigidez do atual modelo, que exige a contratualização mínima de dois serviços para aceder à comparticipação da Segurança Social, instam, nalguns casos, as famílias a optar pela institucionalização numa estrutura residencial quando não há condições de habitação ou meios para contratar um cuidador permanente.
A solução apresentada pela UMP, em colaboração com os parceiros das universidades, passa pela construção de um “modelo único e pluridimensional” que permite flexibilizar a resposta no terreno, com uma oferta alargada de serviços orientados em sete eixos: saúde, segurança, socialização, comunicação, cuidador informal e tecnologia.
Em complementaridade, estes sete vetores permitem adiar o agravamento de doenças crónicas e dependências (saúde), prevenir situações de risco e riscos de queda (segurança), garantir a participação ativa na sociedade (socialização), a manutenção de uma rede de apoio alargada (comunicação), a satisfação das necessidades básicas (AVD) e a capacitação dos cuidadores (cuidador informal), com dispositivos tecnológicos no domicílio (tecnologia).
Depois de aferidas as principais necessidades, o modelo pressupõe a prestação de cuidados centrados no utente através da monitorização de sinais vitais, reabilitação e atos médicos, diagnóstico de situações de risco, formação contínua, participação em atividades culturais, redes de voluntariado, formação a cuidadores e dispositivos de vigilância e apoio remoto.
Esta diferenciação de serviços vai permitir ir ao encontro das exigências identificadas junto dos utentes, que decorrem da necessidade de um maior acompanhamento perante a progressiva perda de autonomia. “A diversificação deve ser feita consoante as necessidades das pessoas e as assimetrias regionais, para que os lares possam assumir a sua missão: cuidar dos mais frágeis e dependentes”, justificou o vice-presidente da UMP, nas conclusões da jornada.
Para Manuel Caldas de Almeida, a pertinência do modelo justifica-se num contexto de envelhecimento acentuado (índice de envelhecimento passou de 27,5% em 1961 para 161,3% em 2019, segundo PORDATA, 2020) e da realidade dos “novos idosos”, que têm pela frente mais anos de vida saudável e menos incapacidades, são mais ativos, consumidores mais exigentes e preferem permanecer em casa, mantendo as suas rotinas.
“Nós não admitimos uma vida sem convívios com os amigos e familiares, sem cumprir os nossos objetivos e sem partilhar afetos. Estes resultados mostram aspetos interessantes de um modelo de SAD mais flexível, inteligente e integrado. Esta continuidade de cuidados, ao longo da vida, é fundamental e minimiza o desperdício de recursos entre as equipas envolvidas”.
No momento de debate, que se seguiu, um dos parceiros, António Cunha, do Instituto Pedro Nunes (Universidade de Coimbra) instigou a equipa da UMP a ser “motor de mudança” nesta área e a avançar para a concretização no terreno, garantindo a sua sustentabilidade.
Junto das Misericórdias, o modelo gerou entusiasmo e disponibilidade para colaborar em soluções conjuntas. Em representação das congéneres do Algarve, o presidente do SR e provedor de Vila do Bispo, Armindo Vicente, mostrou-se disponível para construir uma “resposta de futuro para as pessoas que garanta maior flexibilidade, sustentabilidade e perspetivas de futuro”.
Mais a norte, a provedora de Marco de Canaveses e presidente do SR do Porto, Maria Amélia Ferreira, valorizou o projeto pela congregação de uma “rede de interesses comuns, na indústria, academia e instituições no terreno” e, à semelhança do SR de Faro, disponibilizou-se para colaborar na execução do modelo.
Este projeto foi desenvolvido no âmbito do projeto de Capacitação da UMP, financiado pelo POISE. O próximo passo consiste na implementação do estudo junto de um grupo restrito de Misericórdias, de modo a avaliar os principais obstáculos e benefícios do “modelo preventivo” (tradicional) e “reativo” (avançado).
*O modelo avançado de SAD foi desenvolvido pela UMP, em parceria com o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Universidade do Porto), Instituto Pedro Nunes (Universidade de Coimbra), Escola Superior de Enfermagem do Porto e HEI-Lab: Digital Human Environment Interaction Lab (Universidade Lusófona).
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas