Virou-se a última página do calendário, chegou 2020 e com ele um velho hábito: o Encontro Cinegético da União das Misericórdias Portuguesas, que decorreu entre os dias 17 e 18 de janeiro.
Um velho hábito, que contou com novidades na véspera do 10º encontro, tal como começou por explicar Manuel de Lemos, presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP). “Tivemos esta oportunidade fantástica, conseguimos a tempo e a horas reservar este recém-inaugurado restaurante, propriedade da Adega Cooperativa de Borba, que nos deu a possibilidade de estarmos juntos no jantar. Aqui existe um encontro de pessoas, uma troca de opiniões e assistimos ainda a várias maneiras de ser e estar”.
“Nos encontros anteriores tínhamos de limitar o número de pessoas, pois não existiam condições para uma grande concentração, logo espalhá-las pelos restaurantes era a solução. Este espaço permitiu-nos assim ter um convívio mais alargado”, acrescentou Natália Gaspar, responsável pela Turicórdia, linha de serviço da UMP dedicada ao turismo social.
Mas as novidades não ficaram por aqui. “São 10 anos, um marco na história e por isso considerámos que seria o momento certo para comemorarmos de forma diferente. Quisemos que existisse aqui uma relação entre a caça, a confraternização, a gastronomia e a cultura”, sublinhou a mesma.
Caso para dizer que a receita estava dada e o jantar foi temperado com uma palestra onde estiveram presentes personalidades ligadas às artes cinegéticas e à gastronomia. Tempero esse que fez com que a conversa à mesa e o barulho dos talheres e dos copos dessem lugar ao silêncio. Os presentes, mais de 80, queriam ouvir os dois convidados, caras bem conhecidas dos portugueses.
O primeiro a ter a palavra foi Hélio Loureiro, cozinheiro da Seleção Portuguesa de Futebol. O chefe de cozinha pronunciou-se sobre a importância da caça na gastronomia, falou sobre o estar à mesa, fez um enquadramento histórico do Alentejo com a sua gastronomia. Hélio ligou ainda o tema às Misericórdias, recordando que “duas das obras de misericórdia são ‘dar de comer a quem tem fome’ e ‘dar de beber a quem tem sede’, logo este comer, este falar da comida e da bebida está ligado às Misericórdias, daí que nunca podemos ver este estar à mesa como se fosse um ato banal, devemos sim dar valor”.
A outra personalidade que se fez ouvir no restaurante foi o deputado do Parlamento Europeu, Álvaro Amaro, especialista na área da agricultura e uma voz ativa na defesa do desenvolvimento regional e sobretudo do interior do país.
“Fui convidado para falar sobre o mundo rural, sobre o campo, a caça, sobre um conjunto de atividades sobre as quais as Misericórdias também manifestam preocupação porque têm um papel importante também no mundo interior”, referiu.
Falando em interior, Álvaro Amaro levantou a questão da desertificação, deixando claro que “tem de haver coragem de todo o sistema político para travar esta realidade. Eu costumo dizer que a melhor maneira de ajudar o litoral é desenvolvendo o interior”.
E os ouvintes não ficaram indiferentes ao que lhes foi dito e prova disso mesmo foi o silêncio, a atenção prestada e os fortes aplausos no final de cada intervenção. Mas a noite não ficou por aqui, pois ainda houve tempo para dois momentos musicais. “Silêncio que se vai cantar o fado!”
Depois de uma noite mais calma, a tradição manteve-se e no dia seguinte, 18, decorreu a largada na Herdade da Fuseira e do Álamo, em Borba, onde estiveram presentes mais de 150 pessoas, cerca de 70 Misericórdias de norte a sul do país.
“As pessoas já colocam nas suas agendas este evento que já faz parte do calendário das Misericórdias, o encontro cinegético é já uma referência de convívio e boa disposição”, vincou Natália Gaspar.
No final da largada, caçadores, acompanhantes e convidados juntaram-se à mesa para partilhar um almoço com uma ementa muito diversificada, afinal é composta por iguarias que cada participante leva da sua região.
Segundo Aurelino Ramalho, provedor da Misericórdia do Vimieiro e administrador do Centro de Apoio a Deficientes Luís da Silva, equipamento da UMP, “estes dias são muito mais que um encontro, é partilha, é convívio entre homens e mulheres das Misericórdias, há aqui uma forte ligação entre as pessoas. Isto é união”.
Ao longo dos anos o encontro, que junta Misericórdias de todo o país, tem evoluído de tal forma que Natália Gaspar deixou no ar uma possibilidade. “Veremos se nos próximos anos não se irá justificar o alargamento do evento para três dias, enfim o futuro o dirá, afinal o caminho faz-se caminhando”.
10 edições
Desde 2010 que se realiza o Encontro Cinegético da União das Misericórdias Portuguesas. Esta foi a 10ª edição.
80 pessoas
Mais de 80 pessoas marcaram presença no jantar no recém-inaugurado restaurante “O Espiga” propriedade da Adega Cooperativa de Borba.
70 Misericórdias
Cerca de 70 Misericórdias, de norte a sul do país, estiveram presentes no 10º encontro.
Voz das Misericórdias, Ana Machado