Depois de saudar os conselheiros, o presidente da UMP, Manuel de Lemos, abriu a discussão com uma breve apresentação deste “órgão que junta pessoas com diferentes sensibilidades e dará um contributo positivo para refletir sobre as dificuldades e caminhos a seguir”. Alertou, contudo, que “não entrará em domínios cujas funções conflituam com as do Secretariado Nacional e Conselho Nacional, privilegiando temas e questões de natureza estratégica”.
No horizonte, o coordenador do grupo e provedor da Santa Casa de Pombal, Joaquim Guardado, identificou possíveis linhas de ação e reflexão para este “órgão consultivo e de apoio às decisões dos órgãos sociais da UMP, com recomendações sobre o futuro das valências, a relação com a Segurança Social e o nosso papel na área social e da saúde”.
Assumindo-se uma “defensora do papel da sociedade civil”, Maria de Belém Roseira, ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral da UMP e ex-ministra da Saúde, louvou a criação de espaços de diálogo desta natureza, numa sociedade onde prevalece uma “relação de subserviência com o poder e não de afirmação das nossas ideias”. No ano em que se comemora o 50º aniversário do 25 de Abril, considerou ainda relevante “falar sobre a importância da democracia participativa”, que não é “nem acarinhada nem estimulada”.
A este respeito, Vítor Melícias, presidente honorário da UMP e presidente deste CE, reconheceu a importância deste fórum de discussão, enquanto “guardião da identidade e promotor da ação da sociedade civil organizada das Misericórdias”, e destacou o papel da comunicação neste desafio de “ser voz e pensamento e de fazer a ponte entre a sociedade civil e a sociedade pública”.
Esta preocupação com a comunicação voltou a ser tema na intervenção de Francisco Araújo, provedor da Santa Casa de Arcos de Valdevez e presidente do Conselho Nacional da UMP, que referiu que “o novo governo vai dedicar-se aos enfermeiros, professores e médicos e isso leva-nos a um aspeto essencial, a comunicação, uma vez que somos uma das maiores entidades patronais e a comunicação social dá-nos foco quando temos um problema”.
Opinião partilhada pelo provedor de Aljustrel, para quem a “opinião pública sabe os problemas dos polícias e dos professores, mas não conhece verdadeiramente os nossos”, enfatizando as dificuldades do Baixo Alentejo, onde “as pensões médias andam na ordem dos 400 euros e o desgaste dos carros do apoio domiciliário não se compara ao dos centros urbanos”.
Pensar o futuro das Misericórdias implica, na opinião de Manuel Caldas de Almeida, provedor da Misericórdia de Mora e ex-vice-presidente da UMP, pensar nas “respostas que queremos dar aos jovens e idosos, daqui a 10 ou 15 anos, pensar no que vão ser os lares do futuro e no papel da economia social aqui e na Europa”. Para concretizar esta missão, considera necessário saber comunicar com os jovens e dar uso a instrumentos, já produzidos pela UMP, como o estudo “Envelhecimento - Respostas seniores do futuro: um modelo de respostas especializadas integradas” (2021), a obra “Misericórdias no Feminino” (2022), entre outras.
Projetar a ação e missão das Misericórdias passa também por “dar ênfase ao património”, alertou Bernardo Reis, provedor da Santa Casa de Braga, que assumiu durante dois mandatos o pelouro da cultura no Secretariado Nacional da UMP. Só assim “as Misericórdias passam a ser vistas como elas são, com uma missão social, persistência e ação a bem do nosso país”.
No final da manhã, resumindo algumas intervenções, Maria de Belém Roseira reforçou a necessidade de pensar as “Misericórdias hoje, porquê e para quê?” e o seu papel nos sistemas de proteção social, apostando “numa intervenção diferenciadora que investe no potencial de cada pessoa”, atuando com vários agentes da sociedade, em todo o ciclo de vida.
Neste primeiro encontro, os conselheiros definiram os objetivos e pensaram no método de trabalho para as próximas sessões, propondo a criação de comissões, para aprofundar temas, e a atribuição de tarefas específicas a conselheiros designados com experiência na matéria.
O novo Conselho Estratégico é coordenado por Joaquim Guardado e presidido por Vítor Melícias. Constituído por um conjunto de provedores, o CE também conta personalidades como Carlos Beato, administrador executivo da Fundação Montepio, Luís Pedro Mota Soares, ex-ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Marco António Costa, ex-secretário de Estado da Segurança Social, e Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde.
Voz das Misericórdias