Neste artigo, Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, realça como “as mulheres têm sido a alma das Misericórdias. Muitas vezes de forma anónima, tantas vezes heroínas invisíveis que colocam o serviço aos outros à frente das suas vidas e das suas famílias”.
"Mulheres: a alma das Misericórdias
As Misericórdias nasceram pela mão de uma mulher marcante na história de Portugal: D. Leonor, a Rainha Perfeitíssima.
Mas não é só na sua génese que as mulheres tiveram um papel determinante nas Misericórdias. Ao longo dos séculos, as mulheres têm estado na base de todo o modelo e têm sido fundamentais para a missão das Misericórdias em Portugal.
Têm sido a alma das Misericórdias. Muitas vezes de forma anónima, tantas vezes heroínas invisíveis que colocam o serviço aos outros à frente das suas vidas e das suas famílias.
Seja através das provedoras, que sucessivamente têm assumido lugares de liderança, seja através de todas as trabalhadoras que diariamente fazem das 14 obras de misericórdia um lema de vida. Cuidadoras natas. Rostos de políticas sociais concretas.
O papel das mulheres na história das Misericórdias acompanhou, também, no último século, as batalhas pela igualdade de género e a afirmação das mulheres no seio dessas instituições e das obras sociais foi fundamental para demonstrar valor, capacidade e participação no espaço público. É inquestionável que as Misericórdias só existem porque têm a implementar a sua missão milhares de mulheres que acompanham quem mais precisa.
Apoiam diariamente crianças, pessoas mais velhas, pessoas mais vulneráveis, cumprindo todos os dias, sem exceção, o sonho, idealizado há mais de 500 anos, de concretização diária de mobilização da sociedade para, em conjunto, responder às necessidades dos mais frágeis. Dando sentido a viver em sociedade.
São estes milhares de mulheres que diariamente percebem as necessidades, distribuem alimentação e outros bens a quem precisa, acolhem quem procura abrigo, apoiam doentes, ensinam as crianças nas creches, integram as pessoas com deficiência, acompanham quem está mais isolado ou excluído, estão ao lado das nossas pessoas mais velhas.
Milhares de mulheres que durante a pandemia deixaram as suas casas e as suas famílias para se dedicarem a quem mais estava a precisar, numa missão de grande exigência e dedicação.
A nossa missão é, por isso, dar voz a estas mulheres e valorizar o seu papel fundamental para garantir que a sociedade reconhece e cria condições para que o dia a dia seja cada vez mais realizador.
O mundo faz-se de quem faz e é isso que as mulheres nas Misericórdias são: fazedoras de impossíveis e concretizadoras dos valores que justificam e legitimam a nossa vida em sociedade.
Graças a vós, temos ultrapassado, em conjunto, estes tempos difíceis, procurando sempre proteger da melhor forma as pessoas mais vulneráveis.
Temos muitos desafios pela frente.
Desde logo, termos cada vez mais “Leonores” como provedoras, dando voz a todas estas mulheres, garantindo que assumem, cada vez mais, lugares de direção nas organizações, traduzindo nos cargos de liderança a percentagem que representam no total dos trabalhadores.
Por outro lado, é essencial conseguirmos valorizar o trabalho de todas as mulheres invisíveis e garantirmos também que estas características femininas de pragmatismo, humanização e personalização das respostas sejam, mais e mais, um padrão permanente para transformar vidas.
Os mais de 500 anos das Misericórdias revelam o poder transformador do bem, com as mulheres sempre presentes a manter esta chama acesa.
Muito obrigada por serem a minha permanente inspiração e fonte de energia.
E a alma das Misericórdias".
'Misericórdias no Feminino' integra uma coleção de seis obras sobre temas estruturais da ação e identidade das Misericórdias, publicada em 2022 com financiamento do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (operação POISE-03-4639-FSE-000849), que contam com a participação de personalidades das mais diversas áreas da sociedade.