Na abertura do ciclo, que decorre de 21 de setembro a 4 de outubro, o presidente da UMP, Manuel de Lemos, definiu como objetivo dos debates e lançamento dos livros o reforço da “identidade e natureza das Misericórdias”, num momento de aceleradas transformações sociais e políticas. “As Misericórdias têm consciência de que o mundo está a mudar aceleradamente e temos de ter capacidade de acompanhar esta mudança”. Neste contexto, considera necessário refletir sobre os “valores que nos fazem estar aqui hoje”, sob pena de “deixarmos de ser aquilo que somos”.
A identidade e perenidade destas instituições tem sido assegurada ao longo dos séculos por um corpo de trabalho maioritariamente feminino, a quem Ana Mendes Godinho dirigiu um agradecimento profundo numa homenagem e ode pelo papel determinante e “generosidade sem limites”, durante a pandemia. “Quero dar voz a todas as mulheres que estão no substrato e dia a dia das Misericórdias, tantas vezes heroínas invisíveis que colocam o serviço do outro à frente delas. As mulheres são fazedoras de impossíveis e concretizadoras de valores que justificam e legitimam vivermos em sociedade. São a alma das Misericórdias”.
As palavras de reconhecimento foram acompanhadas de um repto e convite à mudança no que diz respeito aos cargos de direção assumidos por mulheres. Cerca de “90% dos trabalhadores são mulheres, mas nos cargos de direção ainda temos um longo caminho a percorrer. Temos de ter mais Leonores como provedoras. Estamos a perder um potencial brutal. As mulheres são cuidadoras natas, mas são também rostos de políticas sociais concretas”, lembrou.
Para Maria Amélia Ferreira, provedora da Misericórdia de Marco de Canaveses e autora do texto “Liderança – Erguer alicerces pelo exemplo de quem é capaz”, na publicação “Misericórdias no Feminino”, este livro é uma “homenagem do que se tornou evidente nos anos de pandemia. Sem as mulheres isto não tinha corrido como correu. Todas as mulheres anónimas, que foram grande suporte para a liderança, deram lições de humanidade e constituem hoje um corpo muito relevante nas organizações”.
Num tempo marcado pela injustiça, desigualdades e crise de valores, Vítor Melícias, presidente honorário da UMP, assume a pertinência do debate sobre “o que é perene e identitário” nas Misericórdias, as catorze obras em análise numa das publicações, pela sua atualidade e “capacidade de adaptação às necessidades e contextos dos variados tempos e lugares para enfrentar os ventos da História”.
A conversa foi moderada por Pedro Mota Soares, mesário da Misericórdia de Cascais e ex-ministro da Segurança Social, que instigou a plateia a olhar para as “obras de misericórdia, ADN criador das instituições, numa lógica de futuro. Não podemos falar delas sem falar dos desafios de futuro, são o primeiro marco de definição dos direitos humanos e a consagração do que é ser humano”.
O evento teve transmissão online e pode ser revisto nas páginas de Facebook e Youtube da UMP para que todos possam acompanhar a reflexão sobre os desafios sociais do século XXI e contribuir para a análise, mudança e construção de caminhos de futuro.
Este ciclo de conferências surge no âmbito da apresentação de seis novas publicações, nas áreas do envelhecimento, património e liderança feminina, entre outros, com financiamento do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (Comunicação UMP | Operação POISE-03-4639-FSE-000849 | Capacitação Institucional dos Parceiros da Economia Social Membros do CNES).
Na próxima sessão, a 28 de setembro, serão apresentados os livros sobre envelhecimento, ‘Envelhecer’ e ‘MA(i)SAD’, num debate presidido pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro. Dois dias depois, no âmbito da 11ª edição do Dia do Património das Misericórdias que decorre em Viana do Castelo, apresenta-se a publicação ‘Misericórdias: Património com Identidade’.