No dia em que se inicia o período quaresmal, que nos conduzirá ao Tríduo Pascal, tempo maior da espiritualidade das Misericórdias, e sob a égide do Ano Jubilar 2025, dirijo-vos umas breves palavras.

A primeira palavra para exortar todos a uma união espiritual ao Papa Francisco, que nestas horas se encontra numa provação terrena de grande exigência. Com as nossas orações e energias positivas, e em família de Misericórdia, unamo-nos ao Santo Padre, para que se sinta fortalecido com a nossa presença. 

Uma segunda palavra para saudar todas as Misericórdias que, ao longo deste período quaresmal, se mobilizam para vivenciar o caminho de reflexão e oração que nos é proposto.

Neste âmbito, desejo igualmente agradecer a todos os que, mais especificamente na Semana Santa, se mobilizam para organizar, promover ou simplesmente participar nas cerimónias tradicionais deste tempo litúrgico. As Misericórdias, ao longo de séculos, sempre mantiveram estas práticas, que numa conjugação de fé, tradição e cultura, garantiram momentos de enorme significado às suas comunidades. Saúdo, por isso, o testemunho de todos e cada um, na afirmação da nossa história, identidade e espiritualidade. 

Uma terceira palavra para convidar todas as Misericórdias a uma intensa mobilização no acolhimento das propostas que o Papa Francisco nos apresenta para este Jubileu.

A Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário de 2025 ‘Spes non Confundit - a esperança não engana’ apresenta um conjunto de reflexões e propostas que tocam diretamente a missão e os valores das Misericórdias.

Neste quadro, não devemos ficar indiferentes ao apelo do Papa Francisco, para que todos, sob o sinal da esperança, nos mobilizemos no apoio aos mais vulneráveis, pois “as obras de misericórdia são também obras de esperança, que despertam nos corações sentimentos de gratidão”.  

Resumindo a proposta do Ano Jubilar, transcrevemos os seguintes apelos:

  • Paz para o Mundo: “Além de beber a esperança na graça de Deus, somos também chamados a descobri-la nos sinais dos tempos, que o Senhor oferece. Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra.”
  • Presos: “Seremos chamados a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade. Penso nos presos que, privados de liberdade, além da dureza da reclusão, experimentam dia a dia o vazio afetivo, as restrições impostas e, em não poucos casos, a falta de respeito.”
  • Doentes: “Sinais de esperança hão de ser oferecidos aos doentes, que se encontram em casa ou no hospital. Que os seus sofrimentos encontrem alívio na proximidade de pessoas que os visitem e no carinho que recebem.”
  • Jovens: “E de sinais de esperança também têm necessidade aqueles que, em si mesmos, a representam: os jovens. Muitas vezes, infelizmente, veem desmoronar-se os seus sonhos. Não os podemos dececionar: o futuro funda-se no seu entusiasmo.”
  • Migrantes: “Não poderão faltar sinais de esperança em relação aos migrantes, que deixam a sua terra à procura duma vida melhor para si próprios e suas famílias. Que as suas expetativas não sejam frustradas por preconceitos e isolamentos.”
  • Idosos: “Sinais de esperança merecem-nos os idosos, que muitas vezes experimentam a solidão e o sentimento de abandono. Valorizar o tesouro que eles são, a sua experiência de vida, a sabedoria que trazem consigo e o contributo que podem dar, é um empenho da comunidade cristã e da sociedade civil, chamadas a trabalhar em conjunto em prol da aliança entre as gerações.”
  • Pobres: “E sentidamente, invoco a esperança para os milhares de milhões de pobres, a quem muitas vezes falta o necessário para viver. Face à sucessão de renovadas vagas de empobrecimento, corre-se o risco de nos habituarmos e resignarmos. Mas não podemos desviar o olhar de situações tão dramáticas, que se veem já por todo o lado, e não apenas em certas zonas do mundo.”

 

Portanto, este Jubileu há de ser um Ano Santo caracterizado pela esperança que não conhece ocaso, a esperança em Deus. Que nos ajude também a reencontrar a confiança necessária, tanto na Igreja como na sociedade, no relacionamento interpessoal, nas relações internacionais, na promoção da dignidade de cada pessoa e no respeito pela criação. Que o testemunho crente seja fermento de esperança genuína no mundo, anúncio de novos céus e nova terra (cf. 2 Pedro 3, 13), onde habite a justiça e a harmonia entre os povos, visando a realização da promessa do Senhor.

Neste contexto, solicito-vos que, neste ano jubilar, em que muitas incertezas e ameaças pairam sobre o mundo e sobre Portugal, sejamos promotores de compromissos e testemunhos da esperança.

 

Com os melhores cumprimentos,

Manuel de Lemos

Presidente do Secretariado Nacional da UMP