Mais de vinte anos depois da publicação do primeiro volume (2002), Manuel de Lemos recordou a origem do projeto editorial - comemorações dos 500 anos das Misericórdias portuguesas - e as dificuldades associadas a uma empreitada desta dimensão. “Assumimos este desafio com muito interesse, mesmo sabendo que ia ser difícil recolher fundos para custear o projeto, porque tinha um significado muito grande para desmistificar, alargar horizontes e compreender melhor este fantástico património”.
De acordo com o presidente do Secretariado Nacional da UMP, os ecos da PMM persistem até aos dias de hoje, ao nível da valorização do património e arquivos das Misericórdias, uma vez que “estimulou a cuidar melhor, a fazer um levantamento e reabilitação deste património”, reconheceu num agradecimento a todos os que tornaram possível a coleção.
Para Paulo Fontes, diretor do CEHR, uma das vantagens desta iniciativa foi partir de uma “dinâmica comemorativa, como os 500 anos das Misericórdias, e prolongar-se no tempo” sendo que nada disto teria sido possível sem a “ousadia e convergência de vontades do Padre Vítor Melícias [então presidente da UMP] e do Professor Mário Pinto [presidente da Comissão Nacional para as Comemorações dos 500 Anos das Misericórdias]”.
Considera, por isso, pertinente revisitar este trabalho e dar continuidade a esta conjugação de vontades “num compromisso de longo prazo entre as instituições e a comunidade científica”, através da recém-criada Rede de Arquivos de Instituições Religiosas. “Temos dinamizado sessões de sensibilização e formação e vamos estruturar um mapeamento dos fundos documentais de modo a torná-los disponíveis aos investigadores e à sociedade. Vimos por isso desafiar a UMP e as Misericórdias a pormo-nos a caminho no âmbito deste trabalho em rede”.
Uma década depois do fim do projeto, José Pedro Paiva, coordenador científico da coleção, congratulou-se com o legado dos “magníficos Portugaliae Monumenta Misericordiarum”. No meio académico, o impacto é evidente e comprova-se pelo elevado número de “estudos novos, teses de mestrado e de doutoramento publicadas nos últimos 20 anos, com base em documentação e instrumentos de trabalho aqui reunidos. Esse é um dos grandes contributos para o conhecimento e progresso da História de Portugal”.
No universo das Misericórdias, o historiador e professor catedrático na Universidade de Coimbra considera que a mais-valia se prende sobretudo com o “conhecimento do seu passado e noção mais clara da sua memória e identidade. Sem uma identidade forte, lúcida e despida de alguns mitos, que marcaram a consciência que tinham de si próprias, não têm robustez para enfrentar os desafios com que se confrontam”. Finalizou com um agradecimento a todos os membros da comissão científica com quem partilhou “esta grande aventura: uma equipa de pessoas muito conceituadas e altamente especializadas nesta área”.
Na assistência estava uma das investigadoras envolvidas, Ângela Barreto Xavier, cocoordenadora do quarto volume da PMM, que destacou como um dos maiores contributos “o olhar sobre as pessoas que são o objeto da assistência das Misericórdias e não apenas o ponto de vista das elites, como os irmãos da mesa. Nesta obra é possível ouvir as vozes dos mais desfavorecidos e ter acesso às vidas que muitas vezes ficam na penumbra, através, por exemplo, de petições de viúvas e de documentos onde as pessoas invocam a sua pobreza”.
Para a historiadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, recentemente distinguida com o prémio de investigação e ciência Infosys de Humanidades, isto permite dar “protagonismo a pessoas que não têm protagonismo e que estão fora dos centros de poder”.
Os dez volumes da coletânea estão disponíveis, na integra, no site da UMP e do CEHR.