A administradora da instituição desde 2012, Infância Pamplona, disse ao VM que histórias para contar “há muitas, todas elas de trabalho, amor, resiliência, cuidado, dedicação” e não faltariam adjetivos para continuar a conversa, mas ao longo dos quase 10 anos de direção há situações que marcam.
“Quando aqui cheguei não havia nenhuma ligação entre o lar e o centro de atividades ocupacionais (CAO) e os utentes, nos dias de chuva e intempérie, muniam-se de capas, guarda-chuvas para irem para o outro lado”, lembrou a diretora.
Este circuito desprotegido de “poucos metros” criou na diretora uma “enorme necessidade” de avançar com “um túnel e fazer daquela passagem um espaço coberto e isso causou um impacto enorme nas pessoas, que deixaram de apanhar chuva, vento e sol no verão”.
“Isso marcou-me muito. Outro igualmente marcante foi o nosso ginásio adaptado. Fizemos uma candidatura e hoje temos um espaço que é muito utilizado pelos nossos utentes e, até à pandemia, também por utentes de outras instituições”, contou.
Um ginásio que, no seu entender, “foi um ponto de viragem na instituição, porque acabou-se com aquele conformismo de que um deficiente não pode ter outras atividades”, quando na realidade têm, assim haja condições e criação de possibilidades para o fazerem”.
Uma mudança que, nos últimos 20 anos, foi acontecendo “na sociedade em geral, porque houve uma evolução muito grande nas mentalidades” e hoje, considerou Infância Pamplona, “felizmente, a deficiência já não é um tabu e já é bem aceite pelas pessoas, a diferença já não é estranha”.
Um crescimento civilizacional que passou, e passa, por cada uma das pessoas e, “se a instituição não se quer fechada” à sociedade, “a criar estigmas para com as pessoas com deficiência”, também a casa “tem de se abrir às pessoas e convidá-las” a entrar.
“A inclusão faz-se nos dois sentidos. Tanto podemos trabalhar a inclusão ao levar os nossos utentes para o exterior, mas a inclusão também existe quando os de fora entram aqui e, também por isso, fiz protocolos com todos os polos universitários de Viseu”, disse.
Parcerias que levam alunos finalistas a realizar estágios no Centro de Apoio a Deficientes Santo Estêvão em diversas áreas como enfermagem, fisioterapia, educação social e isso leva os alunos ao contacto direto com os utentes e a dar a conhecer outras realidades.
“As escolas trazem inovação e assim estamos sempre a evoluir, tanto nas práticas, que podem ser outras, como no olhar diferente sobre as coisas. Quem se está a formar também olha para nós de outra forma e, muitas vezes, a inquietação faz-nos evoluir, dar o salto, até na própria formação humana e de cidadania de cada um”, defendeu.
Uma formação que o presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas, admitiu ter, enquanto antigo diretor do então Centro de Educação Especial. “Nos primórdios da minha atividade pública fiz uma incursão neste mundo da deficiência, porque fui diretor do chamado Centro de Educação Especial e, acreditem, poucas coisas me ajudaram a moldar tanto o caráter como esse centro”, reconheceu.
“Da nossa parte encontrarão sempre as portas franqueadas à colaboração e eu diria que é desinteressada e sem limites, porque com certeza faremos uma comunidade mais feliz como esta e mais inclusiva como queremos implementar em Viseu”, prometeu.
Quem deixou também uma promessa foi a diretora do Núcleo de Apoio à Direção da Segurança Social do Centro Distrital de Viseu. O Centro de Santo Estêvão “tem por missão proporcionar aos utentes e à comunidade em geral ações com a qualidade e responsabilidade social, nunca perdendo de vista a valorização da pessoa humana e a afirmação da intervenção coletiva em prol das comunidades e, “para a prossecução desta importante missão, contarão sempre com o compromisso da Segurança Social”, assumiu Luísa Augusto.
Uma missão que o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) abraçou “há muito”, desde que tinha 35 anos e presidia a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e a então ministra da Saúde Leonor Beleza o incumbiu de negociar com o primeiro e, então, presidente da UMP, o padre Virgílio Lopes.
“Uma pessoa muito mais velha do que eu, mas sempre lhe admirei a forma de estar, a simpatia, a gentileza e sobretudo a firmeza com que defendeu as Misericórdias no momento em que elas estavam tão frágeis e difíceis”, destacou Manuel de Lemos.
O atual presidente não poupou elogios ao falecido mentor da UMP que deu nome à rua onde reside o Centro de Apoio a Deficientes de Santo Estêvão e cuja placa foi desterrada neste mesmo dia de anos.
Palavras elogiosas que também dirigiu ao atual presidente da câmara, Fernando Ruas, que considerou “decisivo” para a criação da instituição há duas décadas, e aos trabalhadores a quem quis deixar “um profundo agradecimento”.
“O que vocês fazem é algo de diferente. Nós, a UMP e estes responsáveis que aqui estão, limitamo-nos a tentar, à medida das nossas limitações, sermos facilitadores, mas são vocês que estão aqui que fazem toda a diferença e, por isso, o nosso agradecimento, desde à equipa técnica ao funcionário mais humilde, o nosso muito obrigado a todos”, reforçou Manuel de Lemos.
Também em jeito de prenda, Manuel de Lemos anunciou que a UMP gostaria de “fazer aqui uma profunda intervenção para tornar o vosso trabalho mais simples e poder acolher mais utentes” e, para isso, submeteu uma candidatura ao programa nacional PARES 3.0.
Obras que segundo Infância Pamplona vão “reorganizar o espaço à luz do que é hoje o conhecimento nesta área para fazer o que é melhor não só para os utentes como para os próprios trabalhadores, num investimento que rondará os dois milhões de euros”, admitiu.
Também o bispo de Viseu, D. António Luciano, quis associar-se ao aniversário do CSE. “Fico contente e feliz e, ao dar os meus parabéns a todos quantos contribuíram e contribuem para esta obra, peço também que não desanimeis, vós sois também a prova e exemplo da resiliência e espero também que o programa da Resiliência [PRR – Plano de Recuperação e Resiliência] possa dar alguma ajuda, porque vós já a estais a pôr em prática”, defendeu.
António Luciano destacou o seu conhecimento de que na casa “se cuida da pessoa humana e se cuida dela no seu todo, a pessoa integral, com muito amor, com muito carinho, com muita disponibilidade e com muito sacrifício” e também por isso apresentou “muita gratidão pela misericórdia” ali prestada.
Voz das Misericórdias, Isabel Marques Nogueira