A Madeira precisa de mais lares e o Governo Regional, liderado por Miguel Albuquerque, tenciona apoiar a construção de novas unidades ou ampliar instalações já existentes, nomeadamente o lar da Santa Casa de Misericórdia do Funchal.

A intenção foi manifestada ao presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos, durante um encontro com o governante madeirense na Quinta Vigia, residência oficial do líder do executivo madeirense, no Funchal, no decurso de uma visita de trabalho da UMP à Região Autónoma da Madeira.

“Existe essa intenção e também a convicção de que o sector solidário, no caso concreto das Misericórdias, é a grande almofada social do Estado português, seja no estado central em Lisboa ou nas regiões autónomas”, explicou Manuel de Lemos ao Voz das Misericórdias.

O presidente da UMP qualificou a reunião como “muito interessante” e saudou os programas de apoio que o Governo Regional tem desenvolvido para as Misericórdias na Madeira relativamente aos lares. Ao que tudo indica, o apoio regional no caso da Santa Casa do Funchal vai ser realizado através da afetação de verbas do Plano de Recuperação e Resiliência.

“O modelo [de apoio] é diferente daquele que existe no continente, mas as Misericórdias da Madeira estão confortáveis e é o que nós queremos”, disse, quando instado a comentar se estava satisfeito com os apoios regionais. Contudo, Manuel de Lemos não deixou de lembrar as “dificuldades de sustentabilidade” que afetam o sector a nível nacional.

“O ano foi muito difícil para todos, nomeadamente devido aos aumentos de custos, como o do salário mínimo, que não se discute, mas que tem um impacto nas instituições, e o aumento dos combustíveis, da energia, do gás e dos bens alimentares que, naturalmente, se repercutiram na sustentabilidade das instituições”, acrescentou.

Manuel de Lemos falava ao Voz das Misericórdias em Machico, onde o dirigente terminou uma visita de dois dias (6 e 7 de dezembro) à ilha da Madeira. No dia anterior à audiência com Miguel Albuquerque, o presidente da UMP liderou a sessão de apresentação de seis livros da União das Misericórdias Portuguesas que retratam o trabalho destas instituições, no Salão Nobre do Governo Regional, no Funchal.

O líder da UMP explicou que o projeto nasceu durante a pandemia, em tempo de confinamento.

‘Memória Covid-19’ foi o primeiro livro a ser elaborado e ajuda a perceber o que “o sector fez para salvar milhares de vidas”. “Hoje posso-vos dizer que Portugal é o país em que faleceu menos gente em lares. O nosso número de óbitos em lares é de 26%, aqui na vizinha Espanha é de 44%, na Itália é de 50%, no Reino Unido é de 50% e na Alemanha superou os 40%”, lembrou o dirigente da UMP, adiantando que “nas Misericórdias o número de óbitos não passou dos 12%”.

No encontro com o presidente do parlamento madeirense, Manuel de Lemos teve a oportunidade de explicar o momento atual das Misericórdias, bem como perspetivar os desafios e dificuldades que se vislumbram no horizonte, fruto dos perigos da atual conjuntura de crise.

Uma visão que foi partilhada pelo anfitrião, José Manuel Rodrigues, que não deixou de salientar o trabalho das Misericórdias em prol dos “mais fracos, da redução da pobreza, de apoio aos idosos e de ajuda às famílias carenciadas”.

“Esta mistura de estagnação económica, inflação e subida das taxas de juro é uma mistura explosiva para as famílias, que já estão a ter consequências nos seus rendimentos. Isto quer dizer que as Misericórdias, mais uma vez, vão ser chamadas a apoiar aqueles que não terão rendimentos para satisfazer as suas necessidades e os compromissos que foram assumindo”, referiu o presidente da Assembleia Legislativa da Madeira.

Por seu turno, a provedora da Santa Casa de Misericórdia de Machico defendeu “a identidade das Misericórdias” e a prontidão com que dão resposta aos pedidos de ajuda. “Estamos na linha da frente, com capacidade de responder às necessidades e aos problemas sociais”, afirmou Nélia Martins, apontando ainda para o papel e desempenho determinantes das quatro Misericórdias existentes na Madeira (Calheta, Funchal, Machico e Santa Cruz).

Já o presidente do Secretariado Regional da UMP e provedor da Santa Casa de Misericórdia de Santa Cruz, Manuel Vieira, fez questão de sublinhar “a união e o trabalho em rede” como o segredo para o sucesso da missão das instituições de solidariedade, tendo ainda reforçado o “orgulho no trabalho feito”, embora lamentando que não tenha sido possível chegar à “pobreza envergonhada”.

Durante a visita, Manuel de Lemos teve ainda a oportunidade de visitar as quatro Misericórdias que funcionam na Madeira, com destaque para a de Santa Cruz, onde decorrem obras de beneficiação no edifício principal e na capela.

LIVROS EM PROL DAS SANTAS CASAS

Agora apresentados publicamente na Madeira, os seis livros da União das Misericórdias Portuguesas abordam os temas como envelhecimento, património e liderança feminina e contam com a participação de personalidades das mais diversas áreas, como política, história, sociologia, comunicação e sector social, entre outros.

‘Envelhecer’, ‘Memória Covid-19’, ‘MA(i)SAD’, ‘Obras de Misericórdia’, ‘Misericórdias no Feminino’ e ‘Misericórdias: Património com Identidade’ surgiram no âmbito de um projeto financiado pelo Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE).

 

Voz das Misericórdias, Raul Caires