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- Oliveira de Azeméis | Voluntariado para dar novo sentido a móveis e vidas
Voltemos ao início. Ao longo dos anos, a Misericórdia de Oliveira de Azeméis foi acumulando mobiliário próprio e algumas doações. Muitos precisavam de alguma intervenção, mas não havia disponibilidade por parte da equipa de manutenção da instituição, sem mãos a medir com outros serviços. Surgiu então a ideia de a tarefa ser desenvolvida por voluntários. E porque não?
Juntando o útil ao agradável, a ideia parecia ter pernas para andar. Cristina Martins, técnica que trabalha diretamente com toxicodependentes e alcoólicos, apresentou o conceito a alguns utentes que aceitaram o repto. “A nossa intervenção não termina com uma abstinência. Alguns utentes não estão profissionalmente ativos, são beneficiários de RSI ou pensionistas, e por isso têm bastante tempo livre. Sentimos necessidade de os ocupar, de algum modo, e
em parte do dia, até para que se sintam úteis e fujam do ócio, que por vezes potencia algumas recaídas”, explica.
Entre aqueles que encaixavam no perfil, estava o Sr. Manuel e outros elementos apoiados pela equipa de intervenção direta da Santa Casa. Começaram a medo, com algum receio, mas o acompanhamento contínuo de Ana Correia, gestora da qualidade da Misericórdia e uma das mentoras do ‘RestruturArt’, foi fundamental para o sucesso. “Como tenho alguns conhecimentos na matéria, dei orientações em termos de recuperação de mobiliário. Sentiram-se sempre acompanhados e isso foi essencial para que ganhassem confiança”.
O Sr. Manuel confirma todas as palavras. Tinha zero experiência em carpintaria e, muito menos, em restauro. Mesmo assim, a sua postura colaborativa fê-lo dizer sim ao desafio: “Estou aqui para ajudar.” A primeira peça a passar-lhe pelas mãos foi um vaso. Sente orgulho quando passa e o vê no átrio da Misericórdia. “Estava na expectativa do que ia sair, mas no final gostei do resultado”, confessa.
Pouco a pouco, os vasos, as arcas, as secretárias e outros móveis da Santa Casa foram ganhando nova vida. Ana Correia dá-lhes o toque final de criatividade e a verdade é que, cerca de 18 meses depois, grande parte do mobiliário prioritário da instituição está recuperado.
E agora? Para que o ‘RestruturArt’ não terminasse, a instituição lançou o repto à comunidade local. “Traz velho, leva novo. A Misericórdia de Oliveira de Azeméis tem uma incrível equipa de voluntários, motivada a transformar os teus móveis velhos em objetos novamente úteis, bonitos e cheios de estilo. E sem qualquer custo.” A mensagem passou e são já alguns os exemplares da comunidade que ganharam nova vida com o ‘RestruturArt’. “A condição é que sejam de madeira. Os interessados contactam-nos e agilizamos todo o processo”, explica Ana Correia.
O voluntariado tem sido um desafio da Misericórdia de Oliveira de Azeméis. Vítor Machado, provedor, reconhece que nem sempre é fácil. “Ao contrário do que acontece em países do norte da Europa, o voluntariado em Portugal ainda não é uma prioridade da maioria da população”, revela.