Por todo o país, creches e estabelecimentos de pré-escolar das Misericórdias foram sinalizados para acolhimento de filhos dos trabalhadores de serviços essenciais. O VM falou com algumas Santas Casas e o sentimento é de responsabilidade e dever cumprido. Por um lado, pela confiança dos pais que entregam os seus filhos numa instituição que não conhecem. Por outro, o dever de apoiar os profissionais essenciais para que estes possam trabalhar com tranquilidade. Entre 503 respostas identificadas pela Segurança Social, 98 são de Misericórdias.

“Todos os colaboradores ficaram contentes com a notícia de que íamos ficar como creche de acolhimento desta área geográfica. Primeiro porque continuam no estabelecimento e depois porque todos temos a consciência de que é fundamental para estes pais terem onde deixar as crianças durante o horário de trabalho e não estarem preocupados”, explicou a diretora técnica da área de infância da Misericórdia de Chaves. Catarina Pereira contou ainda que a procura por este acolhimento começou por aqueles que já frequentavam a creche, mas logo vieram crianças inscritas noutras instituições, cujas respostas sociais tiveram de fechar.

Na Trofa, o cenário é semelhante. Das 11 crianças acolhidas em creche e pré-escolar, cinco vieram de outras instituições do concelho. A adaptação destas crianças tem sido, segundo a diretora pedagógica da Santa Casa, “boa e muito fácil”.

A transferência das crianças para um espaço que não conhecem pode causar estranheza não só às crianças, mas também aos pais. Para minimizar esta situação, a Misericórdia da Trofa tem optado por falar previamente com os pais. Segundo Sílvia Gomes, “assim que a Segurança Social alerta que uma criança vai ser encaminhada para a nossa instituição, entramos em contacto com os pais, esclarecemos normas de funcionamento, a nossa pedagogia, a forma como nos podem contactar e tiramos dúvidas que possam ter”.

Este cuidado, aliado à publicação nas redes sociais e envio por mensagem de fotografias e vídeos das crianças, tem “diminuído um bocadinho a ansiedade dos pais, que nos primeiros dias estavam mais receosos”, afirmou a diretora pedagógica.

Esta opinião é partilhada pela Misericórdia de Belmonte. Para a diretora pedagógica, Carla Santos, o bom acolhimento das novas crianças deve-se “ao carinho e à dedicação” das equipas e também ao facto de, desta forma, ser possível manter as rotinas familiares, determinantes para pais e filhos. A Santa Casa de Belmonte foi a instituição referenciada pela Segurança Social para receber crianças de creche e pré-escolar e ainda ficou responsável pelo apoio a crianças até aos 12 anos em CAF (Componente de Apoio à Família), que funciona no Centro Escolar local e visa reforçar o conceito de escola a tempo inteiro, permitindo, no atual contexto, dar apoio às crianças com mais de 5 anos durante a telescola e em horário pós-escolar.

Em Almeirim, a diretora pedagógica, Joana Fernandes Homem, também deu conta de “algum receio de como as crianças e pais se iram adaptar ao colocar os filhos numa instituição que não conhecem”. Mas superada a primeira fase, “está tudo a correr muito bem”, disse a responsável, destacando que a partilha diária das atividades com as famílias e o contacto prévio e de proximidade com os pais tem ajudado a “minimizar preocupações”.

Na vila raiana de Melgaço, a Misericórdia acolhia, a 8 de fevereiro, 16 crianças em creche e 19 no pré-escolar. Ao VM o provedor, Jorge Ribeiro, disse que “é fundamental que estes serviços estejam a funcionar para darmos apoio aos pais que têm de se manter a trabalhar”, mas aponta algumas lacunas no apoio que está a ser prestado.

O provedor diz que “a resposta em termos de horário não é suficiente para muitos pais que desempenham funções essenciais” e, por isso, defende a manutenção dos centros de ocupação de tempos livres (CATL), que podia ser “muito importante para que os trabalhadores tenham condições de cumprir o seu horário com tranquilidade”.  

O processo de manter os estabelecimentos de creche e pré-escolar de dezenas de Misericórdias a funcionar está a ser acompanhado pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP), que através de circulares tem dado conta às suas associadas de algumas orientações e procedimentos a ter em conta para o acolhimento de crianças no atual contexto de estado de emergência.

12
O encerramento das atividades letivas e não-letivas presenciais foi aprovada em Conselho de Ministros no dia 21 de janeiro e entrou em vigor no dia seguinte. Continuaram a funcionar estabelecimentos de ensino para crianças com necessidades educativas especiais e foram identificados pelos Centros Distritais da Segurança Social os estabelecimentos de acolhimento para os filhos, com idade até aos 12 anos, dos trabalhadores essenciais.

98
Entre 503 creches e estabelecimentos de pré-escolar referenciadas pelos Centros Distritais da Segurança Social como sendo de acolhimento, 98 pertencem a Misericórdias. Os pais têm de fazer o pedido na Segurança Social local, que depois encaminha a criança para o estabelecimento adequado e assume o pagamento das despesas, exceto o seguro, nos casos em que crianças são oriundas de outras instituições.

1
No Cano, a creche de acolhimento da Misericórdia tinha, no dia 9 de fevereiro, apenas uma criança. Ana Rodrigues, diretora pedagógica, explicou ao VM que têm tido “muita procura por parte de pais que têm filhos com 4 anos ou mais, mas como não os podemos acolher (as creches só podem receber crianças dos 4 meses aos 3 anos de idade) temos encaminhado esses pais para Sousel, onde ficou a funcionar a escola de acolhimento”.

Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves